“Uma mudança de cultura muito grande”: políticas da imaginação na institucionalização do projeto piloto do Novo Ensino Médio no Distrito Federal
institucionalização; dispositivos de poder; Novo Ensino Médio.
A Reforma do ensino médio de 2016, batizada por Novo Ensino Médio (NEM), tem seu histórico marcado por objeções por parte de membros das comunidades escolares das redes públicas de ensino e da academia brasileira, bem como carrega o simbolismo de ter sido uma política de ensino promovida por grandes institutos privados. Na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), a construção de uma proposta local a ser implantada na rede pública de ensino ficou a cargo da Diretoria de Ensino Médio (DIEM). No contexto de implementação de um projeto piloto a se iniciar em 2020, ganharam centralidade os esforços de definição sobre o que deveria vir a ser os tempos escolares a comporem a parte flexível do currículo, então chamada por Itinerários Formativos. A Reforma pautara que os estudantes deveriam escolher as formas de oferta que cursariam nos Itinerários, de modo que a escolha foi admitida na DIEM enquanto fator que, entre outros, possibilitaria a promoção de uma mudança muito grande da cultura da escola. Nesse cenário, o problema da motivação do jovem para se formar no ensino médio se somava ao fortalecimento do paradigma de que o ensino e as avaliações deveriam garantir e acompanhar as aprendizagens de cada estudante. Em meio a deslocamentos, negociados e disputados, das figuras relacionais do professor e do estudante, despontou uma ética da autorresponsabilidade que permitiria o reenquadramento do papel escolar enquanto instrumento de produção do sujeito unitário a ser subjetivado face seu futuro. A presente tese se debruça sobre os processos de institucionalização do Novo Ensino Médio a partir da realização de etnografia na Diretoria de Ensino Médio (DIEM) da Secretaria de Educação do DF. As análises se desenvolvem na intersecção entre: uma Antropologia das práticas de poder, a partir de uma investigação de inspiração foucaultiana acerca dos dispositivos disciplinares e de segurança acionados no campo empírico; e o campo das etnografias das instituições, que se voltam para o dia a dia das organizações para compreender como se sedimentam e se transformam as configurações institucionais, nos termos de Mary Douglas, em suas dimensões morais, cognitivas e práticas.