"Entre o poder colonial e a razão humanitária: sobre os modos de gestão da população warao".
Warao; Povos Indígenas; Colonialismo; Poder Colonial; Razão Humanitária
Penso que o colonialismo, entendido como uma estrutura onde ocorrem relações de força objetivas assentadas em determinadas visões de mundo, ainda é atualizado contemporaneamente por meio de discursos e práticas que acionam o poder colonial: uma tecnologia de poder exercida sobre territórios e populações classificadas como “indígenas”. Por meio do uso do que chamei de acervo colonial compartilhado, o colonialismo repetese com diferenças, produzindo diferentes formas de desigualdade e assimetrias. Para tanto, o racismo é imprescindível, assim como uma série de saberes e imagens estereotipadas. No que diz respeito às práticas, o estabelecimento de espaços de segregação tem sido uma das principais medidas destinadas àqueles que supostamente deveriam permanecer na era dos “descobrimentos”. Para que possamos compreender como essa modalidade de poder opera, descrevo e analiso os modo de gestão da população warao, que têm sido implementados tanto na Venezuela quanto no Brasil, em diferentes períodos históricos. Interesso-me, sobretudo, por contextos de ajuda humanitária, cujas ações são orientadas por uma moralidade baseada na ideia de salvar vidas, aliviar sofrimentos e proteger pessoas, a qual tem servido para justificar intervenções militares mundo afora. A partir de uma abordagem processual, percorro as páginas de uma longa história, articulando as perspectivas sincrônica e diacrônica. Assim, veremos como o poder tem sido exercido sobre os Warao e como eles têm reagido, tentando romper com as correntes da engrenagem colonial.