Internações por malária na região extra-amazônica brasileira: um estudo exploratório e de fatores associados.
Malária; Hospitalização; Plasmodium; Estudos de casos e controles; Epidemiologia
INTRODUÇÃO: A malária é uma doença infecciosa aguda causada por protozoários do gênero plasmódio. Transmitida através da picada do mosquito anopheles, ela é predominante em países tropicais e em desenvolvimento. No Brasil, a maior parte da transmissão ocorre na região amazônica. Apesar disso, casos importados e surtos esporádicos ocorrem na região extraamazônica e que representam um desafio para a vigilância. A baixa ocorrência nessa região acaba propiciando um cenário de demora para suspeição e, com isso, demora para início do tratamento, o que gera casos graves e internações. Como resultado desta combinação de fatores, a região extra-amazônica chegou a registrar em 2022 de 2,7%. Considerando a vigilância epidemiológica da doença no Brasil e o objetivo de eliminar a doença até 2035 e reduzir os óbitos até 2030, considera-se importante entender os fatores associados às internações pela doença no país. OBJETIVOS: Analisar os fatores associados à internação por malária na região extra-amazônica brasileira de 2011 a 2019. MÉTODOS: Trata-se de um estudo do tipo caso-controle com dados de casos de malária notificados em estados da região extra-amazônica brasileira, de 2011 a 2019. Foram analisados dados dos sistemas de notificação de casos de malária, o Sistema de Agravos de Notificação (Sinan), e internações do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Casos foram definidos como pacientes notificados com malária no Sinan e com registro de internação por malária no SIH/SUS e controles foram definidos como pacientes notificados com malária no Sinan e sem registro de internação pela doença. Para vinculação dos dados, foram utilizadas técnicas de record linkage probabilístico. Para análise das associações foi utilizado Odds Ratio com 95% de Intervalo de Confiança (IC) e nível de significância p<0,05. RESULTADOS: Foram identificados 1.521 casos e 5.017 controles. Comparando os grupos, observou-se que as únicas variáveis estatisticamente diferentes entre os grupos de casos e controles foram sexo e gestante. Ao final da análise multivariada, os principais fatores associados às internações identificados foram: ser analfabeto (OR = 2,06; 1,06 – 4,00) ter escolaridade até o ensino fundamental (OR = 2,41; 1,94 – 3,00) ou até o ensino médio (OR = 1,73; 1,40 – 2,15); Residir em área urbana (OR = 1,35; 1,03 – 1,76); tipo de lâmina feita por busca ativa (OR = 0,69; 0,57 – 0,83) ou Lâmina de Verificação de Cura (OR = 0,50; 0,36 – 0,69); ser infectado na região amazônica (OR = 1,32; 1,00 – 1,73) ou em outros países (OR = 1,57; 1,15 – 2,13); ser diagnosticado com P. falciparum e malária mista (OR = 1,39; 1,15 – 1,70); e intervalo entre o início dos sintomas entre 3 a 7 dias (OR = 1,66; 1,30 – 2,12) e de 8 dias ou mais (OR = 1,98; 1,56 – 2,52). CONCLUSÕES: Apesar da maior parte dos casos do país ocorrerem na área endêmica, é possível observar grande número de internações na área não endêmica. A alta correlação de casos com viagens a áreas endêmicas e atividades econômicas decorrentes delas, mantém o risco de transmissão na região não endêmica, e pode aumentar a gravidade epidemiológica. É necessário melhorar a qualidade das informações registradas no SIH/SUS, capacitando profissionais para especificar a espécie de malária e padronizar as informações dos óbitos, sendo fundamental para aprimorar políticas públicas que possam prevenir casos graves e auxiliar a redução dos óbitos, em consonância com o plano de eliminação da malária no Brasil e a estratégia dos ODS. Recomenda-se a realização de novos estudos para identificação dos fatores associados na área endêmica do país e a utilização de outras fontes de dados para identificação dos diagnósticos de malária na região extra-amazônica, principalmente considerando a rede hospitalar.