Cenário do Distrito Federal frente aos indicadores de prevenção primária e secundária do câncer do colo de útero
Câncer do colo do útero; HPV; Prevenção; Imunização; Rastreamento.
O câncer do colo do útero constitui um relevante problema de saúde pública, especialmente por se tratar de uma doença evitável. A eliminação da doença como problema de saúde pública pressupõe a ampliação da cobertura vacinal contra o papilomavírus humano (HPV) e a efetividade do rastreamento populacional. Este estudo teve como objetivo analisar os indicadores de prevenção primária e secundária do câncer do colo do útero no Distrito Federal entre 2018 e 2023. Trata-se de um estudo descritivo, com dados secundários obtidos dos sistemas de informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), da Coordenação-Geral de Informação e Análise Epidemiológica do Ministério da Saúde, e do Sistema de Informação do Câncer (SISCAN). Foram avaliados indicadores de cobertura vacinal, número absoluto de doses aplicadas e indicadores de desempenho do rastreamento citopatológico, com análise descritiva das tendências e comparação com parâmetros nacionais. Os resultados demonstraram que a cobertura vacinal contra o HPV em meninas permaneceu abaixo da meta de 90% preconizada pela Organização Mundial da Saúde para ambas as doses ao longo do período. Apesar do maior número de doses aplicadas em meninas de 9 e 10 anos, a cobertura foi crescente com o avanço da idade, refletindo o acúmulo de registros nas coortes mais antigas. A diferença média de 20% entre a primeira e a segunda dose revela desafios na conclusão do esquema vacinal. Em 2020, houve um aumento expressivo nas doses aplicadas, possivelmente influenciado pela introdução da vacina meningocócica ACWY no calendário vacinal dos adolescentes. Ainda assim, os dados evidenciaram oscilações anuais, influenciadas por fatores como a pandemia de covid-19. No que se refere ao rastreamento, a cobertura permaneceu aquém da meta de 80%, com importantes discrepâncias em relação aos dados de inquéritos populacionais. A maior parte dos exames foi realizada em mulheres de 35 a 54 anos, com baixa proporção de exames de primeira vez e concentração de exames repetidos, o que limita o alcance efetivo da população-alvo. Indicadores de qualidade, como percentual de amostras insatisfatórias e presença de células da zona de transformação, apontaram fragilidades técnicas em parte dos exames. Além disso, o tempo de liberação dos resultados se mostrou superior ao recomendado, posicionando o DF entre os piores desempenhos nacionais. Os resultados do estudo podem ser explicados por múltiplas barreiras à prevenção, incluindo a hesitação vacinal, lacunas de informação, baixa adesão à segunda dose, ausência de estratégias estruturadas de convocação para o rastreamento e fragilidades na qualidade e oportunidade dos exames. A atuação da Atenção Primária à Saúde mostrou-se fundamental, mas ainda insuficiente para garantir a equidade e a cobertura adequada das ações. Conclui-se que, apesar dos avanços, o cenário atual é marcado por desafios estruturais e programáticos que demandam estratégias coordenadas e sustentadas para o fortalecimento das ações de prevenção do câncer do colo do útero no Distrito Federal. O estudo evidenciou múltiplas barreiras à prevenção, incluindo a hesitação vacinal, lacunas de informação, baixa adesão à segunda dose, ausência de estratégias estruturadas de convocação para o rastreamento e fragilidades na qualidade e oportunidade dos exames. A atuação da Atenção Primária à Saúde mostrou-se fundamental, mas ainda insuficiente para garantir a equidade e a cobertura adequada das ações. Conclui-se que, apesar dos avanços, o cenário atual é marcado por desafios estruturais e programáticos que demandam estratégias coordenadas e sustentadas para o fortalecimento das ações de prevenção do câncer do colo do útero no Distrito Federal.