Reações adversas entre pessoas vivendo com HIV em um serviço de atendimento especializado do Distrito Federal
HIV, terapia antirretroviral, reações adversas a medicamentos, análise de sobrevida, modificação de tratamento, farmacovigilância
A introdução da terapia antirretroviral (TARV) transformou a infecção pelo HIV de uma condição fatal em uma doença crônica e controlável. Apesar dos avanços no desenvolvimento de esquemas mais seguros e efetivos, as reações adversas a medicamentos (RAM) continuam sendo um desafio relevante no manejo clínico de pessoas vivendo com HIV (PVHIV). Este estudo teve como objetivo estimar a incidência de troca do esquema antirretroviral motivada por RAM em PVHIV que realizaram sua primeira consulta no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh) entre 2018 e 2022. Como objetivos específicos, buscou-se descrever os dados sociodemográficos e clínicos da população, descrever as principais queixas apresentadas, classificar as RAM segundo órgão ou sistema afetado conforme o Medical Dictionary for Regulatory Activities (MedDRA), descrever e classificar os motivos que ocasionaram a modificação do esquema da TARV, estimar o tempo até a ocorrência da primeira troca por RAM e comparar as incidências de troca por RAM entre os esquemas terapêuticos. Trata-se de uma coorte histórica, retrospectiva e observacional, composta por 238 indivíduos adultos que realizaram sua primeira consulta no ambulatório entre 2018 e 2022. As informações foram extraídas dos sistemas AGHU e SICLOM, complementadas com dados dos prontuários clínicos. Foram analisados aspectos sociodemográficos, clínicos, de tratamento e a ocorrência de RAM que motivaram trocas de esquemas. Os resultados mostraram que 31,9% dos pacientes realizaram ao menos uma troca de TARV, sendo que 55,3% dos casos tiveram como motivo uma RAM. As principais RAM estiveram associadas a distúrbios renais (29,8%), psiquiátricos (14%) e musculoesqueléticos (12,3%), sendo tenofovir, efavirenz e dolutegravir os medicamentos mais frequentemente relacionados. Fatores como sexo feminino, idade e estado civil (divorciado ou viúvo) mostraram associação significativa com a troca por RAM. A análise de sobrevida revelou que a probabilidade de troca foi maior nos primeiros 24 meses, com densidade de incidência de 5,6 por 100 pessoas-ano. O esquema dolutegravir (DTG) + tenofovir (TDF) + lamivudina (3TC) apresentou melhor perfil de durabilidade comparado ao tenofovir (TDF) + lamivudina (3TC) + efavirenz (EFV), que esteve mais associado a RAM, principalmente neuropsiquiátricas. Conclui-se que, embora os esquemas atuais apresentem melhor perfil de segurança, as RAM permanecem como fator determinante para a troca da TARV. Os achados reforçam a necessidade de fortalecimento da farmacovigilância ativa, da qualificação dos registros clínicos e da adoção de estratégias para manejo precoce das RAM, visando à segurança, à adesão e à sustentabilidade do tratamento das PVHIV.