FATORES CONTINGENCIAIS E DESEMPENHO FINANCEIRO EM UNIVERSIDADE PÚBLICA: evidências da Universidade de Brasília
Teoria da Contingência, Governança e Desempenho Universitário, Universidade de Brasília.
A sustentabilidade financeira das universidades públicas brasileiras tem se tornado tema central na agenda de gestão pública devido às crescentes pressões fiscais e às transformações introduzidas pela Nova Gestão Pública. Nesse contexto, a presente pesquisa adota a Teoria da Contingência como referencial teórico, assumindo que o desempenho financeiro depende da adequação entre características internas (estrutura, estratégia, cultura, tamanho) e pressões do ambiente. Nesse sentido, a pesquisa investiga a Universidade de Brasília (UnB) no período de 2015 a 2024, examinando a relação entre variáveis contingenciais e duas fontes principais de desempenho financeiro: (i) a Matriz Orçamentária (MO), exógena e definida por critérios federais; e (ii) a Receita por Custos Indiretos (CI), endógena e obtida através de projetos acadêmicos. O estudo formulou hipóteses para cada modelo, prevendo que a MO responderia principalmente ao tamanho institucional, enquanto a CI seria sensível à estratégia (projetos) e ao ambiente institucional, especialmente após a criação da CAPRO, unidade que centralizou a gestão da arrecadação de custos indiretos em 2018. Essa distinção permitiu avaliar duas lógicas de financiamento: uma estrutural e imposta versus outra estratégica e gerenciável. Os resultados do Modelo 1 (MO) confirmaram a natureza predominantemente exógena da alocação orçamentária. A área do conhecimento e a criação da CAPRO não se mostraram significativas, comprovando que ações de governança internas têm pouco efeito sobre o orçamento destinado à universidade Por sua vez, o Modelo 2 (CI) apresentou resultados consistentes com o referencial contingencial: houve influência positiva e estatisticamente significativa do número de docentes, do volume de projetos, e da iniciativa da CAPRO sobre a arrecadação de custos indiretos. Isso demonstra que estratégia e gestão institucional importam para a sustentabilidade financeira e podem reduzir a vulnerabilidade à instabilidade fiscal. Além disso, verificou-se heterogeneidade significativa por grandes áreas do conhecimento, com Engenharias, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística/Artes apresentando maior elasticidade de geração de receitas, ao passo que Ciências Humanas e Ciências da Saúde exibiram menor
capacidade de captação, evidenciando como fatores culturais e disciplinares condicionam o desempenho financeiro. Em conclusão, os achados confirmam a premissa contingencial: quanto maior a adaptação institucional às contingências, especialmente no que se refere à profissionalização da governança e à gestão de projetos, maior o desempenho financeiro.