Ação coletiva no WhatsApp e no Telegram: Os enquadramentos golpistas que prepararam o terreno para o 8 de janeiro
framing, ação coletiva, ultradireita, WhatsApp, Telegram, eleições
A invasão às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília entrou para a história brasileira como uma tentativa fracassada de golpe de Estado. Um dos elementos que ajudam a explicar o evento é a disseminação massiva de ataques à integridade eleitoral em mídias digitais. Esta pesquisa analisa como foram construídos os enquadramentos dessas narrativas pela ultradireita brasileira no WhatsApp e no Telegram. Portanto, esta dissertação é guiada pela seguinte pergunta de pesquisa: Como enquadramentos de mensagens enviados via aplicativos de mensageria privada podem ser instrumentalizados para objetivos anti-democráticos? O objetivo geral da pesquisa é compreender os enquadramentos (frames) de ação coletiva empregados pelo bolsonarismo no Whatsapp e no Telegram para atacar a integridade eleitoral, e propor argumentos exploratórios sobre as razões por trás das escolhas de tais enquadramentos. De forma específica, relacionamos a estratégia de enquadramentos a outras estratégias de manipulação do debate público observadas na campanha desinformativa sobre o sistema eleitoral brasileiro. A partir do conceito de enquadramentos de ação coletiva, proposto por Benford e Snow (2000), o artigo analisa 613 mensagens de texto enviadas em 331 grupos de WhatsApp e 180 grupos de Telegram de apoio declarado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que fizessem um ataque claro à integridade eleitoral. A análise foi dividida em dois momentos - antes e depois do período oficial de campanha (até o dia 31 de dezembro de 2022) - para entender como a ultradireita brasileira articulou as narrativas em contextos distintos e manteve seus simpatizantes engajados na mobilização de rua por vários meses. Constatou-se que, no período eleitoral, houve forte mobilização de enquadramentos diagnósticos, apontando e reforçando a injustiça (a suposta fraude) e o culpado (a Justiça Eleitoral). Já no período pós-eleitoral, nota-se o predomínio do enquadramento prognóstico, apontando para a solução de permanecer protestando em frente aos quartéis até que o Exército tomasse alguma atitude para reverter o resultado das eleições.