Populismo, Representação e Comunicação Direta: Uma Análise Teórica à Luz das Lives do Presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).
Populismo; Representação Direta; Democracia; Teoria política; Bolsonaro.
Esta tese investiga o populismo de extrema-direita contemporâneo a partir de uma problemática central da teoria política: a articulação entre populismo, representação política e democracia diante da ascensão eleitoral de lideranças políticas avessas ao Estado democrático de direito. Ancorando-se na teoria de Ernesto Laclau e dialogando criticamente com as contribuições de Chantal Mouffe, Nadia Urbinati e outros autores, o trabalho propõe uma análise teórica do populismo como lógica política que articula demandas sociais difusas, demarca fronteiras antagônicas e prioriza formas de representação direta do “povo” pelo líder, destacando as dinâmicas comunicacionais que expressam essa lógica. A pesquisa combina análise teórica crítica com investigação empiricamente informada. A parte teórica revisita as principais abordagens contemporâneas sobre o populismo, discute suas relações ambivalentes com a democracia liberal-representativa e examina os impactos das transformações comunicacionais impulsionadas pela dinâmica digital. Para explorar empiricamente as dinâmicas analisadas, mobiliza-se o caso do bolsonarismo, interpretado como expressão do populismo de extrema-direita, com foco nas transmissões semanais (lives) realizadas por Jair Bolsonaro entre 2019 e 2022. Atesta-se que o recurso às lives expõe práticas de comunicação direta e performatização da autoridade populista que reforçam a articulação equivalencial entre demandas insatisfeitas, a polarização entre “nós” e “eles” e a erosão das mediações institucionais. Conclui-se que o caso brasileiro serve como exemplo empírico das transformações da representação política na contemporaneidade, contribuindo para o avanço teórico no campo dos estudos sobre populismo e para o debate crítico na teoria política e na ciência política em geral.