PESSOAS VÍTIMAS DE QUEIMADURAS: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, LESÕES DE VIAS AÉREAS, LESÕES POR INALAÇÃO E DESFECHOS EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA REGIONAL PARA TRATAMENTO DE QUEIMADOS
“lesão por inalação de fumaça, queimaduras/mortalidade, incidência.”
“Introdução: Queimaduras são traumas teciduais graves, associados a elevada morbimortalidade. A injúria inalatória, quando presente, agrava o prognóstico e eleva a mortalidade, sendo considerada marcador de gravidade. Objetivo: Avaliar a incidência e o impacto das lesões inalatórias em pessoas vítimas de queimaduras, identificando fatores associados à ventilação mecânica e à mortalidade hospitalar em um centro de referência brasileiro. Métodos: Estudo de coorte, retrospectivo e prospectivo, incluindo todas as pessoas admitidas na Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte entre janeiro de 2010 e dezembro de 2025. Até o momento, foram analisados dados de pacientes internados entre janeiro de 2019 e dezembro de 2024, sendo estes apresentados como resultados parciais. Resultados Parciais: No período avaliado de 1 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2024, foram internados 1486 pacientes, dos quais 1178 tinham idade ≥ 18 anos. Dos pacientes com idade ≥ 18 anos, a idade média foi de 42,5 ± 15,1 anos, sendo 32,5% mulheres. Lesão inalatória foi registrada em 32 pacientes (2,7%). A superfície corporal queimada (SCQ) média foi de 13,3 ± 15,6%, e 12,1% apresentaram SCQ > 25%. A mortalidade global foi de 4,2% (n = 49). Na análise multivariada, idade (OR = 1,029; IC95%: 1,006–1,053; p = 0,014), álcool etílico como agente de combustão (OR = 2,869; IC95%: 1,383–5,948; p = 0,005) e SCQ > 25% (OR = 36,303; IC95%: 17,040–77,344; p < 0,001) estiveram independentemente associados à mortalidade. Entre os pacientes com lesão inalatória (n = 32), a maioria ocorreu em ambiente fechado (84,4%), sendo que 37,5% apresentaram SCQ > 25%. Nesse subgrupo, 25,0% necessitaram de ventilação mecânica (VM), 28,1% de drogas vasoativas e a mortalidade hospitalar foi de 15,6%. Na análise univariada, a necessidade de VM associou-se a maior ocorrência de SCQ > 25% (p < 0,001) e maior Índice de Baux (p = 0,007). A mortalidade hospitalar esteve relacionada à idade mais avançada (p = 0,009), SCQ > 25% (p = 0,002), dispneia na admissão (p = 0,049) e maior Índice de Baux (p = 0,010). Conclusão: Os resultados parciais apontam que a injúria inalatória, embora pouco frequente, associa-se a maior gravidade clínica e maior mortalidade hospitalar. A idade avançada, o álcool etílico como agente de combustão e SCQ > 25% permanecem como os principais fatores independentes de risco para óbito. A continuidade do estudo permitirá consolidar esses achados e ampliar o entendimento sobre o impacto da injúria inalatória em vítimas de queimaduras.”