Avaliação longitudinal da aquisição da massa óssea de crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1: seguimento de oito anos.
diabetes mellitus tipo 1, aquisição de massa óssea, densitometria óssea, antropometria, pediatria.
Introdução. O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) está associado a um potencial risco de interferência negativa em vários aspectos da fisiologia osteometabólica do paciente. Atualmente, há poucos estudos que investigam o impacto do DM1 na aquisição de massa óssea de crianças e adolescentes. Objetivo. Estudar e descrever o padrão de aquisição de massa óssea em crianças e em adolescentes com DM1 ao longo de oito anos, através da análise da densidade mineral óssea de coluna lombar e de corpo total, pela densitometria óssea (DXA). Métodos. Estudo longitudinal, retrospectivo, com avaliação do padrão de aquisição de massa óssea através da DXA em crianças e adolescentes com DM1, ao longo de um período de 8 anos, entre 2009 e 2017, acompanhados na Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Avaliou-se o Zescore de coluna lombar L1L4 (Zcl) e de corpo total (Zcp) do mesmo grupo de pacientes nos anos de 2009 e 2017. No período final do estudo, os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com o tempo de DM1: Grupo A, com menos de 10 anos, e grupo B, com mais de 10 anos de diagnóstico. Dados antropométricos (peso, estatura, índice de massa corporal - IMC), média da hemoglobina glicada (A1c), perfil de ingestão de cálcio, de exposição solar, de prática de atividade física e número de fraturas foram as demais variáveis avaliadas e correlacionadas com o padrão de aquisição de massa óssea dos pacientes ao longo do período de estudo. Resultados: A coorte de estudo constou de 21 pacientes, 13 do sexo feminino, com média de idade de na primeira avaliação de 10,1 ± 2,9 anos e na segunda avaliação de 17,9 ± 2,9 anos. A média de tempo de diagnóstico de DM1 ao final da segunda avaliação foi 11,0 ± 2,7 anos. O Grupo A (n = 8, 7 femininos) apresentava média de idade 16,5 ± 2,4 anos ao final do período de avaliação, tempo de diagnóstico de 9,1 ± 0,8 anos, Z-escore de estatura (Ze) -0,40 ± 0,60 DP, Zescore de IMC (Zimc) 0,9 ± 0,6 DP e média de A1c 8,0 ± 1,4 %. O Grupo B (n = 13, 6 femininos) apresentava ao final do período de estudo, média de idade 18,8 ± 2,9 anos, tempo de diagnóstico de DM1 13,0 ± 2,4 anos, Ze -0,19 ± 1,25 DP, Zimc 0,01 ± 0,63 DP e média de A1c 9,2 ± 1,8 %. Para o grupo total, houve redução no Ze ao longo do período, de 0,35 ± 1,22 para -0,2 ± 1,1 DP (p = 0,000) e aumento no Zimc de -0,37 ± 0,78 para 0,35 ± 0,87 DP (p = 0,043). Não se observou mudança na média de A1c ao longo do período (8,70 ± 1,74% e 8,7 ± 1,7%, respectivamente, p = 0,902). Ao longo do período de estudo, o Zcl do grupo total reduziu de -0,04 ± 0,95 para -0,43 ± 1,23 DP (p = 0,032). Não houve diferença no Zct (p = 0,292). Não se observou diferença no comportamento no padrão de aquisição e massa óssea e na média da A1c (p = 0,135) ao longo do período, ao se comparar os grupos A e B. No grupo total, obteve-se uma correlação negativa moderada entre a média da A1c e o Zcl (r² = -0,504; p = 0,023). Cinco pacientes do grupo total apresentaram fraturas (4 masculinos), todas traumáticas e não vertebrais. Nenhum paciente apresentou osteoporose clínica. O grupo de pacientes com fraturas apresentou maior variação entre o Zcl e Zct de início e final, comparado ao grupo que sem fratura (p = 0,023 e 0,001, respectivamente). Para o grupo total, houve correlação positiva entre o padrão de exposição solar e Zcl (p = 0,036). Entretanto, não se observou diferença no padrão de evolução do Zcl entre os sexos (p = 0,273), assim como não houve correlação entre o Zcl e ingestão de cálcio (p = 0,274) ou prática de atividade física (p = 0,094). Não houve correlação entre o Z-escore do corpo total com os parâmetros analisados. Conclusão: Nessa coorte longitudinal de oito anos, observou piora da massa óssea na coluna lombar, queda no Ze e aumento no Zimc de crianças e adolescentes com DM1, independente do sexo ou do tempo de doença. Pacientes com valores mais elevados de A1c apresentaram maior comprometimento da aquisição da massa óssea. A ocorrência de fraturas ósseas esteve associada a maiores variações negativas na densidade mineral óssea da coluna lombar e do corpo total ao longo do período.