“Avaliação histopatológica de ossos temporais na perda auditiva severa a profunda unilateral e suas implicações no diagnóstico, tratamento e prognóstico auditivo.”
“Perda auditiva unilateral; otopatologia; cóclea; gânglio espiral da cóclea; órgão de Corti.”
“Introdução: O impacto da surdez unilateral para os pacientes foi subestimado ao longo dos anos, devido a uma crença de que a audição normal do ouvido contralateral compensaria os déficits do outro lado. Atualmente, sabe-se que há um esforço particularmente maior destes indivíduos em ambientes de escuta complexos, levando a um desempenho reduzido. A otopatologia permite estudar doenças que afetam o ouvido e é o padrão ouro para avaliar a doenças intracocleares, identificando sensível e especificamente os seus mecanismos fisiopatológicos. Objetivos: Avaliar os achados histopatológicos da perda auditiva unilateral e a contagem de células ganglionares espirais, comparando com o ouvido contralateral normal e discutindo as implicações destes achados para a reabilitação auditiva. Métodos: Este estudo incluiu 88 ossos temporais de 44 indivíduos com diagnóstico de perda auditiva severa a profunda unilateral, da coleção de Ossos Temporais do laboratório de Otopatologia do Massachusetts Eye and Ear Infirmary, com idade variando de 5 a 90 anos. Resultados: Dentro do grupo de estudo, incluímos 6 etiologias diferentes de perda auditiva: surdez súbita, doença de Ménière, tumores do conduto auditivo interno, otite média crônica, fixação do estribo e distúrbios do sistema nervoso central. A análise por todas as causas avaliadas evidenciou que a perda de células do gânglio espiral foi diretamente correlacionada com a perda de fibras neurais (dendritos e axônios) em todas os giros cocleares (p<0.001). O tempo não mostrou relação direta com a perda neuronal no gânglio espiral, o que pode indicar que mesmo com um tempo maior de privação auditiva, a depender da etiologia, o implante coclear pode ser uma medida eficaz para reabilitação. Por outro lado, a cirurgia de orelha interna foi positivamente correlacionada com atrofia do gânglio espiral (p=0.013), sugerindo que a intervenção de reabilitação deve ser próxima ou no mesmo tempo cirúrgico, para um melhor prognóstico. Há uma correlação das perdas unilaterais com anormalidades do órgão de Corti (p<0.001), atrofia da estria vascular (p=0.002) e atrofia dos órgãos sensoriais (p<0.001). Avaliação do subgrupo ‘doença da orelha interna’, excluindo as causas da orelha média e do SNC tiveram uma correlação positiva com algum grau de hidropisia (p<0.001), anormalidades da membrana tectória (p= 0.001) e atrofia do gânglio da escarpa (p=0.002). A cirurgia de orelha interna para este grupo também foi correlacionada com atrofia do gânglio espiral (p=0.008), fibrose (p=0.006) e ossificação (p = 0.005). No subgrupo de doença de Ménière, não houve correlação entre hidropisia e porcentagem de perda neuronal (versus controle), apoiando a teoria de que a hidropisia é um mecanismo adaptativo a um insulto do ouvido interno e não a causa da perda auditiva. No subgrupo de tumores do conduto auditivo interno, a degeneração do gânglio espiral parece ocorrer independentemente da intervenção, mesmo quando o acesso é retrossigmoide. Conclusão: As múltiplas causas de perda auditiva unilateral têm diferentes implicações histopatológicas na orelha interna, o que pode refletir em diferentes resultados na reabilitação auditiva.”