Os Efeitos da Prática de Yoga Atual e a Longo-Prazo Sobre a Regulação Emocional Explícita e Implícita
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O yoga tem sido apontado como uma possível intervenção de regulação emocional. Modelos teóricos propõem que a prática promove a integração entre mecanismos top-down (como funções inibitórias, de monitoramento executivo e controle atencional) e bottom-up (como funções interoceptivas, proprioceptivas e sensório-motoras), o que se traduziria em uma autorregulação mais efetiva em domínios cognitivos, comportamentais e afetivos. A regulação emocional modula a ocorrência, duração e qualidade das emoções, mas apresenta variados níveis de engajamento consciente, gerando suas dimensões explícita e implícita. Quando um objetivo de regulação emocional é ativado e perseguido conscientemente, acionam-se estratégias explícitas de regulação, como a reavaliação cognitiva, a supressão emocional e o controle voluntário atencional. Quando inconscientemente, acionam-se estratégias implícitas, como a aprendizagem por extinção e vieses atencionais automáticos. Este trabalho propôs dois estudos para avaliar se a prática de yoga a longo-prazo e a atual carga horária de prática de yoga estão associadas a mudanças na regulação emocional explícita e implícita. O primeiro estudo investigou se a prática de yoga atual e a longo-prazo se associaria à reavaliação cognitiva, à supressão expressiva, ao foco atencional e à alternância atencional (como medidas explícitas de regulação emocional) e à performance em uma tarefa go/no-go verbal emocional, com estímulos positivos e negativos (como uma medida implícita de regulação emocional). Hipotetizava-se que o tempo de experiência com yoga e a carga atual de prática prediriam maiores índices de reavaliação cognitiva, foco atencional e alternância atencional, e menores índices de supressão emocional. Na tarefa go/no-go, prediriam menores erros por comissão no geral (indicando controle inibitório), menores diferenças entre estímulos positivos vs. negativos em erros de comissão e menores diferenças entre estímulos positivos vs. negativos nas médias de tempos de 16 resposta (indicando menor viés emocional no controle inibitório). A amostra contou com 368 participantes (gênero: 79.3% feminino, 20.1% masculino, 0.6% não-binário; idade: 33.85±7.28 anos, em média; experiência com yoga: 6.9±5.73 anos, em média), em um estudo pré-registrado, online e transversal. Destes, 255 completaram apenas as medidas explícitas, enquanto 143 completaram todas. Entre as medidas explícitas, os anos de experiência com yoga e a carga atual de prática predisseram maiores índices de foco atencional autorrelatado, apenas. Na tarefa go/nogo, os anos de experiência predisseram melhor controle inibitório geral (menos erros de comissão). Além disso, comparando padrões de resposta para estímulos positivos vs. negativos, os anos de experiência predisseram menor viés emocional nas taxas de erros de comissão, enquanto carga atual de prática predisse menor viés emocional nas médias de tempo de resposta. Assim, as hipóteses iniciais foram parcialmente corroboradas. Na dimensão explícita, a prática de yoga associou-se apenas ao controle de foco atencional, enquanto na dimensão implícita associou-se tanto a um melhor controle inibitório geral quanto a menos vieses emocionais. O segundo estudo, visando a aprofundar os achados do primeiro, testou a viabilidade da combinação de medidas fisiológicas e comportamentais para melhor discriminar efeitos topdown e bottom-up das práticas de yoga na regulação emocional. Tratou-se de um estudo piloto que investigou se a prática de yoga atual e a longo prazo prediriam maior variabilidade de frequência cardíaca, (um marcador fisiológico de regulação emocional, que foi mensurado em linha de base, estresse leve e recuperação), e padrões de resposta em duas tarefas de atenção emocional: uma tarefa emocional de pistas espaciais com orientação exógena e uma com orientação endógena (endogenous and exogenous emotional spatial cueing tasks). Nas tarefas, foram utilizados estímulos faciais amedrontados e neutros, com diferentes frequências espaciais (alta, baixa e intacta). Com base em estudos prévios, parâmetros das tarefas foram manipulados 17 para melhor distinguir processos top-down e bottom-up de atenção emocional. Enquanto a atenção emocional top-down pode ser mais fortemente evidenciada no desengajamento atencional para longe de estímulos negativos vs. neutros, especialmente para estímulos de frequência espacial alta, na tarefa endógena, a atenção emocional bottom-up pode ser mais fortemente evidenciada no engajamento atencional frente a estímulos negativos vs. neutros, especialmente estímulos de frequência espacial baixa, na tarefa exógena. Dos 27 participantes, 20 foram incluídos na amostra final (gênero: 60% feminino, 35% masculino, 5% não-binário; idade: 46.60±12.37 anos, em média; experiência com yoga: 16.40±13.02 anos, em média; professores de yoga/meditação: 70%). A coleta de dados foi presencial, em contexto de laboratório—os dados sociodemográficos e de prática de yoga/meditação foram respondidos em lápis e papel, enquanto as demais tarefas (cardiovasculares e de atenção emocional), foram respondidas no computador através do software PsychoPy. As diferenças entre condições de variabilidade de frequência cardíaca desapareceram ao controlar os efeitos da experiência com yoga, o que pode indicar uma relação de mediação (a ser formalmente testada em estudos futuros), enquanto a carga atual de prática levou a uma maior reatividade na variabilidade de frequência cardíaca, ao enfrentar estresse cognitivo. Tal reatividade, apesar de não hipotetizada, pode ser interpretada como uma eficiente modulação vagal para enfrentar demandas situacionais. Em relação às tarefas comportamentais, apenas a experiência a longo-prazo com yoga (e não a carga atual de prática) interagiu com padrões nos tempos de resposta. As respostas frente a estímulos de diferentes frequências espaciais não se diferenciaram como esperado. Mesmo assim, houve evidências de que a experiência a longo-prazo facilitou o desengajamento atencional para longe de estímulos negativos, especificamente sob orientação endógena, o que indica habilidades voluntárias de controle atencional e regulação. Tais resultados apontam que a 18 prática de yoga regular se associou primariamente a mudanças em processos top-down de regulação emocional, embora efeitos bottom-up não possam ser descartados, considerando limitações metodológicas deste trabalho (em especial o pequeno tamanho de amostra, poder estatístico limitado e maior necessidade de controle experimental). Em conjunto, ambos os estudos sugerem que a modificação de funções atencionais de maneira top-down constitui um possível mecanismo pelo qual a prática de yoga afeta a regulação emocional explícita e implícita, levando a menores vieses emocionais. Apesar de encorajantes, os resultados aqui apresentados devem ser considerados com cautela, à espera de suporte empírico mais robusto de diversas frentes de evidência