Modulação da microbiota intestinal, durante a gestação, e seus efeitos sobre a homeostase metabólica
obesidade, microbiota intestinal, gestação, desenvolvimento fetal
A obesidade é um distúrbio metabólico crônico, com implicações clínicas relevantes e considerada como problema crescente. A microbiota intestinal refere-se a micro-organismos que residem no trato gastrointestinal e a alteração da sua composição está envolvida na regulação da homeostase metabólica e resposta inflamatória, envolvidos na fisiopatologia da obesidade. É plausível, desta forma, que haja uma relação entre a alteração da microbiota intestinal em idade pré-natal e o ganho de peso durante a vida. Neste estudo, camundongas prenhas (geração F0) foram tratadas com antibiótico e controle (água), e seus filhotes (geração F1) foram acompanhados em relação ao ganho de peso, consumo de água e dieta (normolipídica e hiperlipídica). Nas 15ª e 16ª semanas de vida, 6 animais de cada um dos grupos foram aleatoriamente selecionados e submetidos ao teste de tolerância à glicose e ao teste de tolerância à insulina, respectivamente. Durante a eutanásia, na 20ª semana, o sangue do tronco foi coletado para a realização das análises bioquímicas e os tecidos interescapular, tecidos adiposos inguinal, epididimal nos machos e parametrial nas fêmeas, retroperitoneal, mesentérico e perirrenal, além do fígado, cêco e hipotálamo foram coletados e armazenados in vitro para a realização de expressão gênica e análise histológica. Os dados gerados indicam que o tratamento com antibióticos não absorvíveis não influenciou o ganho de peso da geração F0, durante a gestação. Já na geração F1, nas fêmeas cujas mães foram tratadas com antibióticos, e que os foram alimentadas com dieta hiperlipídica, houve menor ganho de peso quando comparadas às tratadas com controle, alimentadas com dieta hiperlipídica. Já para os machos da geração F1, advindos de mães tratadas com antibiótico, não se observou diferença significativa no ganho de peso. Fêmeas da geração F1, alimentadas com dieta hiperlipídica, em que as mães foram tratadas com antibióticos, tiveram valores mais baixos de glicose, no teste de tolerância oral à glicose, o que foi condizente com o ganho de peso. Já nos machos alimentados com dieta hiperlipídica, e que as mães foram tratadas com antibióticos, o teste de tolerância à glicose demonstrou melhora dos níveis glicêmicos, apesar de não haver diferença o ganho de peso. Com relação à composição da microbiota intestinal dos animais da geração F0, houve uma diminuição significativa da contagem total das bactérias na composição da microbiota das fêmeas tratadas com antibiótico, em relação às fêmeas tratadas com controle durante a gestação. Na distribuição dos filos, no 9º dia houve uma abundância significativa das Proteobactérias, com redução dos Firmicutes e Bacterioidetes. Na geração F1, não houve uma alteração na contagem total das bactérias. Em relação à distribuição relativa dos filos, observou-se uma diminuição das Proteobactérias, nos animais alimentados com dieta hiperlipídica e um aumento bastante significativos dos Firmicutes com praticamente o desaparecimento dos Bacterioidetes. Estes dados sugerem que a modulação da microbiora intestinal materna durante a gestação pode influenciar a homeostase metabólica e a composição da microbiota intestinal da prole na vida adulta, dependente da dieta.