“Assistência mediada por tecnologia: uma abordagem possível em tempos de pandemia?”
“COVID-19, Teleodontologia, Telemedicina, Telessaúde, Monitoramento, Câncer Bucal, Câncer de Cabeça e Pescoço, Inteligência Artificial, Algoritmo, Revisão Integrativa. Revisão Sistemática, Overview.”
“Introdução: O surgimento do novo coronavírus (SARS-CoV-2) resultou em uma crise global de saúde pública (pandemia de COVID-19), levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declará-lo uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Nesse contexto de pandemia, tornou-se fundamental garantir atendimento aos pacientes com câncer, apesar do lockdown e das restrições. Assim, a Telemedicina se mostrou como uma ferramenta valiosa na avaliação e monitoramento do paciente, assim como no diagnóstico de condições gerais ou específicas. A assistência não presencial, mediada por tecnologia, foi uma das alternativas encontradas e se configurou numa abordagem possível. Mas, em que pese seus potenciais benefícios, quais foram suas limitações? O que poderia ter sido feito diferente? E no campo da odontologia: como se deu a assistência mediada por tecnologia? Objetivos: Avaliar o papel da teleodontologia em pacientes com câncer bucal durante a pandemia de COVID-19 por meio de revisão integrativa da literatura; avaliar a viabilidade da telessaúde no monitoramento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, por meio de revisão sistemática sobre tecnologia remota, adesão do usuário, satisfação do usuário e qualidade de vida e avaliar o uso de ferramentas de inteligência artificial na detecção do câncer comparado aos métodos tradicionais de diagnóstico por imagem por meio de um panorama das revisões sistemáticas. Metodologia: Foram realizadas três revisões de literatura, sendo uma revisão integrativa, uma revisão sistemática de intervenção e uma revisão sistemática de diagnóstico para responder a perguntas sobre os benefícios, vantagens e desafios da teleodontologia durante a pandemia de COVID-19; os graus de adesão dos usuários, satisfação do usuário e qualidade de vida na adoção da telessaúde para monitoramento da tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço; e quão precisos são os aplicativos de inteligência artificial para detecção de câncer em pacientes adultos. A estratégia PICO (População, Intervenção, Comparação e Desfecho) e PIRD (Participante, Teste Índice, Teste de Referência e Diagnóstico de interesse) foi utilizada para definir os critérios de inclusão e exclusão nas revisões realizadas. Uma pesquisa ampla foi realizada em bases de dados como PubMed, Cochrane Central Register of Controlled Studies (Cochrane), SciVerse Scopus (Scopus), Web of Science, Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), Excerpta Medical Database (Embase), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Business Source Complete (EBSCOhost) e na literatura cinzenta através do PROQUEST, Google Scholar e JSTOR. Os descritores do Medical Subject Headings (MeSH) foram empregados para desenvolver a estratégia de pesquisa. A busca eletrônica foi padronizada para identificar os artigos relevantes por meio da combinações de todos os descritores. Foi utilizado o software gerenciador de referências online Rayyan QCRI (https://rayyan.qcri.org/welcome) para remoção de duplicatas, além da remoção manual. Os principais desfechos primários considerados foram os benefícios do uso da TO para pacientes em tratamento de câncer de boca e cabeça e pescoço durante a pandemia de COVID-19; modelo de aplicativo já utilizados em TM/Telesaúde; número de pacientes que aderem ao uso, qualidade de vida e satisfação do paciente no uso do aplicativo de TM/Telesaúde e detecção de cancer e diagnóstico por meio de inteligência artificial. A verificação da qualidade metodológica em estudos individuais foi avaliada pela Lista de Verificação de Avaliação Crítica do Joanna Briggs Institute (Instituto Joanna Briggs, 2014). Esta metodologia foi aplicada nas revisões sistemáticas.
Resultados: No primeiro estudo, apresentado no capítulo 2, observou-se que 78% dos pacientes atualmente preferem a teleodontologia; 92% dos pacientes recomendariam o uso da videoconsulta a outros pacientes. A continuidade do atendimento odontológico, a redução de visitas de pacientes ao hospital, a redução do risco de infecção pelo coronavírus e a limitação de consultas presenciais para proteger os profissionais de saúde são benefícios que reforçam o uso da teleodontologia pelas instituições de saúde. No segundo estudo, disposto no capítulo 3, embora tenha havido heterogeneidade quanto à tecnologia utilizada, os estudos incluídos mostraram que o monitoramento remoto e/ou autogerenciamento dos sintomas por meio de aplicativos móveis foi viável para a maioria dos pacientes, com graus satisfatórios de aceitabilidade, satisfação, usabilidade e adesão. No terceiro artigo, apresentado no capítulo 4, foi demonstrado que várias abordagens de Inteligência Artificial são promissoras em termos de especificidade, sensibilidade e precisão diagnóstica na detecção e diagnóstico de tumores malignos. Conclusão: A partir dos artigos realizados, concluiu-se que a Assistência Mediada por Tecnologia, durante a pandemia do COVID 19, nos campos médicos ou odontológicos, como ferramenta para monitoramento remoto de pacientes com câncer de boca e câncer de cabeça e pescoço, foi bem aceita pelos pacientes, e contribuiu para continuidade do atendimento odontológico, para redução das visitas dos pacientes ao hospital, redução do risco de infecção pelo coronavírus e a limitação do atendimento presencial para proteger profissionais de saúde. Todavia, observou-se a necessidade de uma interface mais amigável, de uma avaliação adequada da experiência do usuário para uma concreta aplicabilidade dessas ferramentas para monitoramento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Nesse contexto, a detecção e diagnóstico de tumores malignos com o auxílio de IA parecem ser viáveis e precisas com o uso de diferentes tecnologias, algoritmos de aprendizado profundo e de máquina e análise radiômica. As revisões realizadas apontam benefícios da assistência mediada por tecnologia também para o cuidado de pacientes com câncer, embora essas tecnologias não sejam capazes de substituir o profissional radiologista na análise de imagens médicas ou odontológicas. De maneira que, ainda que as evidências apontem que a assistência mediada por tecnologia foi uma abordagem possível em tempos de pandemia, mais estudos longitudinais multicêntricos são necessários para uma melhor possibilidade de aplicação clínica."