Corpo, Ritual, Performance e Comunidades Quilombolas. 

Esta pesquisa analisa os símbolos rituais da folia de Folia de São Sebastião a partir de suas performances, bem como, suas interfaces com outros três rituais/festejos da Comunidade Quilombola Magalhães. O método etnográfico foi utilizado como recurso metodológico, utilizando como instrumentos de coleta de dados o diário de campo, a observação participante e o registro audiovisual. A folia de São Sebastião é caracterizada por três períodos, sendo eles: o pré-liminar (separação-estrutura) relacionado à saída da bandeira na casa do encarregado, o liminar (margem-antiestrutura) composto pelo giro da bandeira nos povoados da região do município de Nova Roma/GO e o pós-liminar (agregação) com a entrega da bandeira na casa dos festeiros. A bandeira da folia de São Sebastião é o símbolo ritual na sua menor unidade (dominante), não sendo apenas uma representação da divindade em si, mas sua presença perante os homens com capacidade de alterar a realidade do grupo social. A polarização do processo ritual ocorre através das performances, em que o agasalho, o canto para o dono da casa, o bendito de mesa, a despedida, o rala, a ladainha, a reza e o levantamento do mastro (estão relacionadas ao polo ideológico) e as brincadeiras (sussa, curraleira e corrido), além do forro (estão relacionadas ao polo sensorial). Estas performances se subdividem nos três períodos do rito, sendo que o bendito de mesa e a sussa são os únicos que compõem os três momentos. A folia é um ritual caracterizado pela dádiva, em que as trocas intercambiadas de dar, receber e retribuir ocorrem através da reciprocidade e mediada pelo símbolo dominante (a bandeira). Já nos outros três rituais/festejos da Comunidade Quilombola Magalhães temos o período pré-liminar (separação-estrutura) no sacrifício do animal e preparativos para a reza, o liminar (margem-antiestrutura) na reza e jantar e o pós-liminar (agregação) no forro e organização coletiva do espaço em que ocorreu o rito. Estes quatro rituais/festejos compartilham a performance da reza e do forro em seus processos rituais, pois são oriundos de uma hibridização cultural entre os dois rituais/festejos mais antigos da comunidade quilombola, ou seja, a folia de São Sebastião e a reza para Nossa Senhora da Conceição que estruturam os outros dois.