As estratégias de ruptura ao racismo e sexismo informadas no cotidiano: reflexões a partir da trajetória de Dora Lucia de Lima Bertúlio
racismo cotidiano; feminismos negros; interseccionalidade; história de vida; memória
A proposta de tese tem por objetivo refletir sobre a emergência de práticas empreendidas por mulheres negras no cotidiano e que são potencialmente provocadoras de rupturas nas dinâmicas e nos efeitos do racismo e do sexismo. A reflexão pretendida será construída a partir do estudo da trajetória de vida da jurista e teórica Dora Lucia de Lima Bertúlio, uma das primeiras intelectuais a discutir o racismo no campo jurídico na década de 1980. Escrever uma tese sobre sua trajetória pessoal e política significa, por um lado, apreender como histórias de mulheres negras potencializam a reflexão sobre raça, sexo-gênero, classe e política no Brasil, por outro, mobilizar aspectos que têm sido suprimidos, desarticulados ou negados pelas perspectivas teóricas hegemônicas do Direito e da Ciências Sociais. Este relatório de qualificação apresenta a proposta da pesquisa e percorre os caminhos desenvolvidos até aqui. Ainda, apresenta os conceitos, diálogos teóricos de partida e as estratégias metodológicas adotadas. Na primeira parte, discorro sobre o horizonte epistemológico dos feminismos negros e da interseccionalidade e apresento as noções de cotidiano e racismo cotidiano, ferramentas analíticas que orientarão a reflexão proposta. Na segunda parte, apresento a história de vida como o método privilegiado do trabalho e os primeiros encontros com Dora Lucia. Por fim, discuto como a narrativa das histórias de vida nos desafia a imaginar a produção de outras memórias coletivas (e de escritas), que sejam capazes de contar as experiências e as subjetividades marcadas pelo racismo e pelo sexismo, sem que as violências engendradas na articulação desses sistemas de poder tirem de cena os próprios sujeitos.