O homem como sujeito e objeto: políticas das masculinidades no Brasil
contemporâneo
gênero; masculinidades; paternidades; políticas governamentais; ONGs.
A presente tese investiga os repertórios de ação e os fluxos de interação local-
global das Organizações Não Governamentais (ONGs) que visam ressignificar as masculinidades no
Brasil. Essas instituições são compreendidas sob a ótica do conceito de políticas das masculinidades,
proposto pelos sociólogos anglo-saxões Michael Messner e Raewyn Connell, tentando, a partir desses,
promover uma releitura crítica da ideia para o contexto brasileiro, tendo em vista a necessidade de
considerar as singularidades da sua formação colonial-moderna, patriarcal e racista, a qual participa das
configurações de masculinidade e intervenções a essas relacionadas. Além disso, discute-se que o vácuo
produzido pela ausência do sujeito masculino nas políticas públicas - ainda que determinadas situações
de vulnerabilidade possam ser levadas em conta por medidas governamentais - concede ênfase ao
protagonismo do campo não estatal quando o tema são as reformas para a igualdade entre os gêneros.
Para a realização da pesquisa empírica , foram selecionadas três instituições representativas de
distintos momentos de evolução do debate sobre masculinidades no cenário nacional: Promundo,
Instituto PDH e Projeto MEMOH, as quais tem atuado com metodologias próprias. Durante o trabalho
de campo, foram realizadas 04 entrevistas semiestruturadas presenciais e virtuais com representantes
dessas instituições. Posteriormente, foi desenvolvida a análise semiótica das postagens publicadas nos
perfis oficiais dessas organizações na rede social Instagram, com ênfase em conteúdos sobre
paternidades e interseccionalidades. O percurso investigativo encontrou, como principais resultados no
âmbito da ação e do conteúdo disseminado por essas instituições: (i) a identificação da centralidade do
formato grupo como tecnologia chave de intervenção, independentemente da metodologia mais ampla, aplicada para o trabalho coletivo; (ii) a presença de matrizes de cooperação financeira e técnica híbridas nas organizações, com protagonismo do setor privado; (iii) a atenção voltada para o homem negro e heterossexual em imagens de sucesso e bem-estar da família nuclear; (iv) e o foco na correspondência entre o “novo pai” com o novo homem enquanto via privilegiada de transformação dos participantes.