Mulheres no delivery: as peculiaridades no trabalho de entregadoras por meio de plataformas digitais no Distrito Federal.
Entregadoras; plataformização do trabalho; gênero e plataformas digitais; trabalho digital.
O presente estudo buscou tornar visíveis as histórias de vida das mulheres que
trabalham com entregas de alimentos e mercadorias por meio das plataformas digitais no Distrito
Federal. Com o advento da pandemia da Covid-19, o trabalho desenvolvido pelos entregadores por
aplicativo se tornou essencial no Brasil e deu início a uma série de estudos sobre o tema. Por ser
majoritária, a população masculina passou a protagonizar as notícias, os estudos e as discussões em
torno do assunto, e isso resultou na invisibilização das mulheres que compõem a categoria. Ainda
são escassos os estudos sobre as entregadoras por meio de aplicativos no Brasil. Por isso, nesta
pesquisa, optei por acompanhar o coletivo feminino de entregadoras intitulado ”Moto Brabas”,
iniciado em um grupo de Whatsapp em meados de 2023. Diante disso, os esforços da pesquisa foram
direcionados no sentido de descobrir qual o perfil das mulheres, quais são as especificidades que
atravessam a dinâmica do trabalho desenvolvido por elas e em que condições esse trabalho ocorre.
Para alcançar os objetivos desta investigação, recorri às ferramentas da pesquisa qualitativa de cunho
etnográfico, utilizando os dados coletados por meio de entrevistas em profundidade realizadas junto
a essas atrizes. A análise e a discussão dos dados foram realizadas a partir das pistas interpretativas
desenvolvidas pelas teóricas da Sociologia do Trabalho e dos Estudos de Gênero. Por fim, os
resultados apontam para uma predominância de mulheres negras e periféricas que, em sua maioria,
não contam com uma rede de apoio para o cuidado de pessoas e os afazeres domésticos na esfera
domiciliar. Como consequência da falta de assistência (do Estado e das famílias), as mulheres ainda precisam enfrentar os obstáculos diários de acesso à cidade, juntamente com as articulações das opressões de gênero, de raça, de orientação sexual e de classe para garantir a permanência no trabalho plataformizado que, na maioria dos casos, se converte em renda única ou principal destas trabalhadoras.