Por que Retornam? Trajetórias, Expectativas e Estratégias de Doutores(as) Brasileiros(as) no Contexto do Programa ‘Conhecimento Brasil
mobilidade acadêmica; migração de retorno; trabalhadores qualificados; divisão internacional do trabalho; política de ciência e tecnologia; geopolítica do conhecimento
A presente pesquisa visa compreender o fenômeno de retorno do conjunto de pesquisadores(as) doutores(as) brasileiros(as), repatriados(as) no âmbito do Programa Conhecimento Brasil (PCB), política pública recente de atração e fixação de talentos no Brasil, implementada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia (MCTI) e Inovação. Lançado em 2004, o PCB representa uma iniciativa estatal pioneira orientada a mitigar os efeitos adversos da “fuga de cérebros”, no contexto de disputas por trabalhadores qualificados na nova divisão internacional do trabalho. Partindo de uma perspectiva crítica, que problematiza a ideia de “livre circulação” e reflete sobre o papel do Estado na regulação dos fluxos de trânsito de capital humano (via de regra, unidirecionais), propõe-se investigar como essas trajetórias individuais refletem e são constrangidas por dinâmicas estruturais mais amplas de relações assimétricas — tanto materiais (pela perspectiva da economia política do conhecimento), quanto simbólicas (geopolítica do conhecimento) — e de dependência entre centros e periferias. O desafio analítico centra-se na articulação entre as dimensões institucionais e normativas que conformam o retorno como política pública e as significações subjetivas construídas pelos próprios pesquisadores sobre suas próprias trajetórias e experiências profissionais. Para tanto, privilegia-se metodologicamente a análise automatizada dos currículos Lattes, bem como a aplicação de uma survey estruturada, junto ao universo de pesquisadores/as doutores/as selecionados/as mediante chamada pública. Para além do delineamento do perfil desta população, a investigação visa mapear as trajetórias de mobilidade acadêmico-profissional internacionalizadas, bem como as redes de vinculação estabelecidas no Brasil e no exterior. À luz das trajetórias, busca-se compreender não apenas as motivações para o retorno, mas, ainda, como as representações sobre o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) orientam estratégias presentes e expectativas futuras. Assim, importa analisar como tais cientistas significam subjetivamente o retorno, articulando aspectos laborais, percepções relativas ao campo científico e fatores pragmáticos e pessoais. Entende-se a decisão de retorno não como ponto de chegada, mas, essencialmente, como processo, permanentemente tensionado entre a efetivação do retorno e a possibilidade de uma nova emigração, enquanto parte de estratégias mais amplas de desenvolvimento da carreira científica. Espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir para o debate sobre internacionalização, mobilidade acadêmica e políticas de retorno pensadas no âmbito das políticas de ciência e tecnologia.