INDÍGENAS MULHERES ACADÊMICAS: VOZES INSURGENTES E CORPOS RESISTENTES NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Indígenas mulheres. Colonialidade. Universidade. Corpo-território. Experiências vividas.
O presente trabalho investiga como se desenvolvem e entrelaçam as trajetórias das indígenas mulheres nas universidades brasileiras. Parte-se da perspectiva decolonial e interseccional para a compreensão analítica do enfrentamento à colonialidade do ser, saber e poder com o intuito de tratar, em sua importância e complexidade, do ingresso e da presença do corpo-território das indígenas mulheres nas universidades brasileiras, especialmente na pós-graduação (em cursos de mestrado e doutorado) e docência, quando estão imersas no mundo da pesquisa e da produção científica. São considerados os significados da demarcação do território acadêmico a partir da dupla dimensão das suas experiências: a insurgência expressa nas suas palavras e atitudes, que se elevam cotidianamente e marcam trajetórias próprias durante seus cursos e vida acadêmica, e a resistência corporificada na afirmação coletiva da identidade, dos saberes étnicos ancestrais e no compromisso com suas comunidades originárias. Uma vez ingressas na educação superior, enquanto corpos-territórios, as indígenas mulheres são desafiadas a permanecerem em instituições que ainda não se pensam a partir dos e com os Povos Indígenas que as compõem. Por sua vez, contatou-se que a produção de conhecimento de autoria indígena apresenta-se profundamente enraizada em suas culturas, colaborando para a conservação e atualização de suas cosmovisões e valores comunitários em movimentos de autoafirmação étnica e de luta pelas suas terras. Ao longo destas páginas, discute-se que as tentativas de apagamento dos saberes e de extinção dos Povos Indígenas foi uma história vivida diretamente pelas indígenas mulheres. A violência contra elas deve ser compreendida no contexto dos processos que recaíram sobre seus corpos, mas à medida que estão se organizando em movimentos de resistência e reexistência, as imposições do poder vão sendo enfrentadas e se enfraquecendo. Afinal, elas não só resistem às opressões colonial-modernas, mas também reexistem, ou seja, reinventam-se como acadêmicas, contribuindo fortemente para a gestação de uma nova sociedade.