Famílias Transnacionais de Migrantes Brasileiras na Espanha: uma análise a partir da perspectiva dos/as filhos/as
famílias transnacionais; práticas transnacionais; filhos; maternidade transnacional; reorganização do cuidado
Esta tese investiga os impactos que a migração de mães brasileiras para a Espanha provoca na organização e na estrutura familiar de seus filhos e filhas que ficam no Brasil, a partir do ponto de vista destes últimos. Desde uma perspectiva transnacional, a pesquisa foca nas práticas familiares desenvolvidas por estas famílias separadas pela distância a fim de manterem seus vínculos afetivos; no modo em que se deu a organização do cuidado dos/as filhos/as; assim como em suas experiências como membros de famílias transnacionais, tanto no país de origem, como no de destino. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com um trabalho de campo multissituado, onde realizei entrevistas em profundidade, no Brasil e na Espanha, com 14 filhos/as que ficaram no estado de Goiás; com 7 mães que migraram para a Espanha; e com 2 representantes de associações que atendem a pessoas migrantes na cidade de Barcelona, no âmbito do meu doutorado sanduíche realizado entre 2022 e 2023. Para tanto, utilizei a técnica da bola de neve para, a partir de alguns informantes iniciais, encontrar mais participantes. A análise dos dados aponta que os/as filhos/as ficaram no Brasil, majoritariamente, sob os cuidados de suas avós maternas, tias e pais, de modo que, posteriormente, após a regularização da situação administrativa de suas mães na Espanha, a metade dos/as participantes também migrou para estar junto a elas. Observa-se que, diante das dificuldades impostas pela política migratória espanhola para a entrada de migrantes não comunitários, deixar os/as filhos/as no Brasil durante os primeiros anos de migração constitui, muitas vezes, uma estratégia destas mães para conseguir entrar no país, encontrar trabalho e moradia para tentar regularizar sua situação e, só depois, levá-los consigo. A pesquisa conclui pela necessidade de uma mudança no tratamento que a política migratória espanhola dá às mulheres migrantes não comunitárias, visto que o modelo atual dificulta o acesso das migrantes e de seus/suas filhos/as ao direito de reagrupamento familiar, contribuindo, desse modo, para sua separação.