Para além de uma racionalidade (neo)liberal: microempreendedorismo e plataformas digitais de trabalho
Plataformização do Trabalho; Microempreendedorismo; Informalidade; Neoliberalismo
Dadas as condições objetivamente insuficientes em que determinados conjuntos de trabalhadores estão inseridos, como o espírito do nosso tempo mobiliza conceitos, afetos e valores de modo a justificar um estado de coisas ordenado? É com essa indagação no horizonte que essa pesquisa se desenvolve. Dadas as reestruturações produtivas desde a década de 1970 e as fronteiras mais recentes de novas formas de trabalho, foram abordados dois grupos de profissionais: os microempreendedores individuais e os motoristas de aplicativo. Para o objetivo dessa análise, foram revisitados os conceitos de liberdade positiva e negativa desde o liberalismo clássico, ou seja, como o estar livre se traduz nessa dupla condição do trabalhador que pretende alçar a autonomia de fazer o que quer, ao tempo em que entende sua condição material desde uma contínua interferência de atores externos. Ademais, as novas roupagens do liberalismo clássico se traduzem também em uma deslegitimação dos espaços públicos de disputa, ou seja, no sentimento de desconfiança de qualquer institucionalidade ou agrupamento coletivo. É sob esse palco que o neoliberalismo se desenvolve enquanto elemento de justificação, ou seja, desdeuma movimentação de aspectos individuais como autonomia e responsabilidade até a desconfiança dos aspectos coletivos de disputa. Os diversos instrumentos de legitimação e justificativa que perpassam os discursos de liberdade, responsabilidade e justiça se condensam em valorações morais que são elevados ao status de valoras do bem comum. Essa hierarquização de valores é construída para além de uma racionalidade restrita a aspectos de cognição, dado que afetos e moralidades sob o qual estão submetidos esses trabalhadores são continuamente movimentados. Assim, ao se aproximar de trabalhadores que estão submetidos às novas formas de gerenciamento e controle do tempo de trabalho, analisa-se como os processos de justificação se consolidam especialmente a partir de uma hierarquia de valores em uma escala de moralidade.