Educação entre emancipação e reprodução: o Projeto de Vida e a formação de sujeitos no Novo Ensino Médio
Novo Ensino Médio; Projeto de Vida; Racionalidade Neoliberal; Unidimensionalidade; Teoria Crítica.
A presente pesquisa investiga a formação almejada pelo Novo Ensino Médio, com foco nocomponente curricular Projeto de Vida, com o objetivo de analisar de que modo a racionalidade neoliberal se manifesta no modelo educacional vigente e busca conformar as/os estudantes à sua lógica. O Projeto de Vida foi escolhido por representar duas dimensões basilares dessa configuração: (a) como um dos pilares que estruturam e justificam o Novo Ensino Médio - presente desde a Base Nacional Comum Curricular; e (b) como disciplina obrigatória no currículo escolar. A hipótese de pesquisa mobiliza o conceito de unidimensionalidade cunhado por Herbert Marcuse, para ponderar se, e como, o Projeto de Vida atua na conformação ideológica dos agentes sociais, ao suprimir as múltiplas dimensões do ser humano e subordiná-las aos interesses do mercado, especialmente por privilegiar a razão instrumental. Nesse processo, valores como empreendedorismo, autorresponsabilização, meritocracia e flexibilidade tendem a ser internalizados e reproduzidos. A metodologia adotada é a análise de conteúdo, tendo como corpus empírico os livros didáticos do Projeto de Vida aprovados no PNLD 2021. A dissertação também articula a unidimensionalidade à “nova razão do mundo” descrita por Christian Laval e Pierre Dardot, estabelecendo conexões entre a racionalidade da sociedade industrial avançada e a razão neoliberal, como uma espécie de herança. O referencial teórico inclui Pierre Bourdieu, Paulo Freire, Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, com o intuito de cotejar dois modelos formativos: um voltado à reprodução e outro à emancipação. Dada a importância da conjuntura das relações étnico-raciais na educação e na produção do conhecimento, a pesquisa incorpora discussões sobre o dispositivo de racialidade, o epistemicídio e o mito da democracia racial como chaves-analíticas incontornáveis para refletir criticamente sobre a formação escolar no contexto brasileiro.