“O MUTURO DA NOSSA HISTÓRIA”: O CINEMA COMO CONTRIBUIÇÃO PARA PENSAR SOBRE A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA
Cinema; Brasília; Adirley Queirós; Walter Benjamin; Narrativa histórica.
Este trabalho busca refletir sobre a construção de Brasília a partir do filme A cidade é uma só? de Adirley Queirós. Nesse contexto, o ponto de partida é a reflexão histórica que escapa da narrativa tradicional do progresso, trazendo à tona vozes silenciadas que, por meio de obras como a mencionada, ganham visibilidade tanto para os cidadãos quanto para a área acadêmica. Por essa ótica, diferentemente do enfoque na construção da cidade moderna centrada no Plano Piloto e nas rodovias que atravessam o Brasil, este estudo aborda a formação de Ceilândia, Região Administrativa do Distrito Federal. Dessa forma, o filme de Adirley resgata partes da história omitidas pela narrativa dominante do progresso. Essa abordagem guia a construção dos capítulos desta dissertação, os quais seguem a reorganização proposta pela montagem cinematográfica. No filme, os registros apresentados são resgatados pelos próprios moradores que participaram do processo, unindo passado e presente pela edição que compõe a narrativa. Por meio dessa montagem que remonta o modo de contar a história, o interesse é indicar o cinema como uma possibilidade revolucionária de narrativa histórica, tanto por sua forma de produção e reprodução quanto por sua adequação ao modo de recepção das massas, cuja percepção é alterada pelas mudanças na produção e organização social. Para tanto, faz-se a análise do cinema como possibilidade técnica e influência política e histórica, fundamentando a argumentação pelo filósofo Walter Benjamin, especialmente por seu ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica e pelo texto Sobre o conceito de História, além de outras contribuições selecionadas que corroboram a reflexão proposta. Apesar de haver o reconhecimento sobre a complexidade do pensamento de Benjamin, não se deve ignorar suas contribuições ainda tão pertinentes e necessárias, especialmente para compreender o papel marginalizado e criador do cinema quando este mantém sua infraestrutura independente no cenário dominado pelo capitalismo audiovisual. Diante disso, o maior interesse deste estudo é compreender o cinema como contraponto à visão histórica do progresso, explorando a proposta de Benjamin sobre a "politização da arte". E, nessa perspectiva, almeja-se entender o cinema como uma possibilidade de narrar a história no presente, integrando os indivíduos como protagonistas na sua (re)produção, sobretudo no caso da história de Brasília.