JUSTIFICATIVAS EPISTÊMICAS PARA ARGUMENTOS TEOLÓGICOS
COM BASE EM CRENÇAS TESTEMUNHAIS TRADICIONAIS
ANGLICANAS
Epistemologia Analítica da Religião. Tradição Anglicana. Justificação Epistêmica. Crenças Testemunhais.
A pesquisa examina a tradição anglicana como uma fonte epistêmica para a construção de argumentos teológicos, com foco nas recentes mudanças na teologia moral da Igreja Anglicana, como a ordenação de mulheres e homossexuais e o casamento igualitário. Essas modificações, que geraram controvérsias e rupturas tanto internas quanto em relação a outras denominações cristãs, levantam a questão central: a Igreja Anglicana ainda pertence à Grande Tradição Cristã? Para responder a essa questão, o estudo utiliza a Epistemologia Analítica da Religião, colocando o problema nos seguintes termos: são os argumentos teológicos anglicanos baseados em crenças tradicionais epistemicamente justificáveis? Aposta-se na hipótese de que a justificação dessas crenças é garantida, desde que se baseie em processos confiáveis de formação de crenças testemunhais, autoridades epistêmicas e motivações de credibilidade. Para tanto, percorre-se o seguinte percurso: o primeiro capítulo traduz o problema da tradição como fonte teológica para a linguagem epistemológica, definindo as crenças testemunhais tradicionais (CTT) e o sistema de justificação anglicano; o segundo capítulo aborda a confiabilidade do testemunho para refutar a acusação de subjetivismo, utilizando abordagens externistas como o Confiabilismo de Alvin Goldman e as práticas doxasticas de Wiliam Alston; o terceiro capítulo busca integrar o externismo e o internismo para refutar o tradicionalismo, discutindo o papel da autoridade epistêmica, conforme proposta por Linda Zagzebski; o quarto capítulo pretende explorar a racionalidade como um traço distintivo do Anglicanismo, analisando o pensamento de Richard Hooker e o conceito de desenvolvimento da tradição de Newman; o último discutirá o dilema da justificação da tradição, abordando o reducionismo e o não-reducionismo para, finalmente, avaliar se o sistema de justificação anglicano é suficientemente confiável como fonte teológica. Em suma, o estudo busca demonstrar que o Anglicanismo tem razões epistêmicas para suas posições, desde que sejam consideradas criticamente. O texto reconhece a complexidade da "Igreja Anglicana" como um termo, referindo-se a Igrejas particulares que compõem a Comunhão Anglicana e suas diferentes posições, especialmente em relação a Canterbury.