Falar-mulher: fluir entre
falar-mulher, representação, feminismo da diferença, materialidade, idealidade
Este trabalho aborda a obra de três filósofas: Luce Irigaray, Adriana Cavarero e Elizabeth Grosz. O que as conecta nesta pesquisa, eu afirmaria, é a angústia referente a uma certa dificuldade de falar, enquanto mulheres. Irigaray ocupa um lugar central devido a hipótese de que seu método tem bastante a contribuir para nós mulheres a respeito de desenvolvermos nossa própria linguagem. Após me perguntar o que é falar?, alcanço um horizonte que considero potente para o feminismo que é a pergunta decorrente desta primeira: se nós, mulheres, nos deseducássemos em relação a esta linguagem na qual não nos sentimos representadas – uma linguagem que não criamos – e buscássemos falar a nosso próprio modo, como falaríamos? Quais vias de expressão, gestos, seriam, para nós, expressivos? Como o sexo feminino poderia advir à linguagem? Estas perguntas, para serem eficientes, devem alcançar o que profundamente constitui o ato de falar, ou até mesmo escrever: a relação entre a realidade, a materialidade, e sua representação. O que decorre disto é a necessidade de se perguntar quais são as implicações filosóficas da própria formulação da matéria, tal como ela é, tal como poderia ser. Quais são maneiras potentes de representar, que, como diria Irigaray, não congelem o fluxo discursivo, ou o movimento mesmo de falar? Esta pergunta me leva inclusive a me perguntar se falar necessariamente implica representar. Longe de responder estas perguntas, este trabalho se desenvolve como um ensaio, onde me deixo levar pelo fluxo da curiosidade, ou do espanto (thaumázein), diante do que é e poderia ser falar. O falar-mulher comparece aqui como contribuição metodológica para que as mulheres possam iniciar este movimento, ou como fagulha inspiradora que convoque a falar as leitoras que porventura possam se sentir sem voz, sem linguagem