A vida indivisa da ontologia da potência em Giorgio Agamben
Ontologias
contemporâneas
A vida, nesse trabalho, é a possibilidade e o ponto de partida para reconsiderar a cisão
metafísica que permeia o pensamento filosófico-teológico no Ocidente – transcendência
e imanência, bem e mal, sagrado e profano, humano e animal etc. A vida indivisa,
efetivada em cada vivente, é a resistência à máquina antropológica governamental que
divide para conquistar. Trata-se de pensar a antropologia e a política que vem antes da
captura da vida operada pela lei. Examina-se a relação que G. Agamben estabelece entre
biopolítica e a máquina antropológica, com a finalidade de sugerir que a originária captura
da vida através da lei e sua consequente dominação por meio da lógica soberana pode ser
questionada pela conexão entre a vida insalvável e a forma-de-vida. A vida insalvável,
que tem como figura suprema a natureza humana que permanece perfeitamente
inoperante, e a forma-de-vida, que resiste ao direito e torna indistinguível vida e regra,
unidas são os elementos chave para fazer frente à ontologia da operosidade que predomina
na política no Ocidente. Assim a cisão no interior do vivente e produz o humano a partir
da oposição homem e animal. É toda a compreensão do vivente que deve ser
reequacionada, se é verdade que a vida deve ser pensada como uma potência que excede
incessantemente suas formas e suas realizações. Apresenta-se, então, a vida messiânica
como uma proposta de ontologia da potência da vida, isto é, da vida vivida em sua
potência, a qual não se esgota em forma alguma que assume. Não se trata de assumir uma
vida poderosa, em que o poder da potência se evidencie em todo seu esplendor, mas,
exatamente, o contrário, reconhecer a potência e a impotência presentes continuamente
na vida. Não se deve assumir uma forma de vida tal como, por exemplo, a vida lamuriosa
ou hedonista, mas usar da alegria e do choro sem se deixar ser dominado por essas formas.
Assim como os compradores devem ser como não detentores, porque o uso não pode ser
confundido com a necessidade de posse. Um uso sem posse. Não significa que realizar
a forma-de-vida seja algo simples. A vida messianicamente guiada pelo como não
representa um grande desafio de ruptura com o direito instituído. A vida messiânica é a
paródia das demais vocações. Seja qual for o formato que a vida assuma, todos devem
messianicamente ser como não fossem. Todos devem negar a sua vocação situada no
mundo. Todos devem negar ser possuídos, formatados, por aquilo que devem apenas
usar.