Valor de antiguidade em edifícios brasileiros do século XX
Preservação da arquitetura do século XX; preservação da arquitetura moderna; preservação do patrimônio cultural; valor de antiguidade; Alois Riegl.
A preservação da arquitetura moderna expandiu-se internacionalmente na década de 1990, com protagonismo da organização Docomomo, privilegiando a concepção e o projeto de obras ligadas ao Movimento Moderno. Na década de 2000, formou-se outra visão sobre o tema, que culminou com a formação do Comitê Científico Internacional do Patrimônio do Século XX do Icomos, com interesses mais amplos, inclusive a história e a materialidade dos edifícios – posição consolidada na década passada, com o Documento de Madri-Nova Déli, de 2017. Define-se, assim, um estado da arte da preservação do patrimônio do século XX, que considera sua plena inserção no campo da preservação e lhe reconhece uma variedade de valores e de atributos de valor. A presente tese contribui para o para o avanço do debate e das práticas profissionais, ao analisar as possibilidades de atribuição e de preservação do valor de antiguidade de 32 edifícios brasileiros, construídos de 1901 a 1991, em nove unidades da federação. O valor de antiguidade é chave da Teoria dos valores concorrentes, desenvolvida por Alois Riegl em 1903, que segue como marco contemporâneo da reflexão disciplinar. A primeira parte da tese demonstra como o valor de antiguidade surge e se transforma no pensamento de Riegl, em relação com seus conceitos de atmosfera (Stimmung) e atenção (Aufmerksamkeit), partindo da ênfase no tempo natural e chegando à ênfase na continuidade humana, e se manifestando por meio do envelhecimento, da obsolescência e das alterações nos edifícios. Os casos da segunda parte da tese exploram os desdobramentos empíricos dos três atributos citados, identificando valor de antiguidade relevante e passível de preservação em numerosos exemplos. O valor de antiguidade associado ao envelhecimento varia conforme o material de construção, o elemento arquitetônico em que é empregado e o edifício em que se insere; pode se manifestar em materiais modernos ou tradicionais, frágeis ou resistentes; pode estar em acordo ou em conflito com as intenções de projeto; e pode se formar em peças produzidas em série, as tornando únicas. O valor de antiguidade associado à obsolescência pode se manifestar nos padrões ultrapassados, nas formas antiquadas e nos usos perdidos dos edifícios; nessa variedade, ambiguidade e fricção entre tempos e constituem fonte de interesse para o público. O valor de antiguidade associado às alterações se manifesta menos frequentemente do que os demais, enquanto complexidade ou contradição formais visíveis, e seu reconhecimento depende da sensibilidade para essas características. Por fim, a preservação desse valor é favorecida pelo reconhecimento dos edifícios, dentro e fora das instituições de patrimônio, antes e depois do tombamento; e por uma cultura de preservação que reconheça relevância em sua materialidade e sua história.