Uma hermenêutica do sagrado: o milagre e a graça como controvérsia no século XVII francês (1653-1669).
Controvérsia do santo espinho; querela; jansenismo;
Este projeto apresenta uma proposta de pesquisa relacionada aos usos teológicos de um milagre ocorrido em 1656 na abadia de Port-Royal-des-Champs, nos arredores de Paris. Em meados do século XVII, os jansenistas – grupo reformista católico de matriz agostiniana – enfrentavam seu momento mais crítico, após uma série de condenações papais direcionadas a sua concepção acerca da graça de Deus e do livre arbítrio, em grande medida insufladas por membros da Companhia de Jesus. Embora reconhecido oficialmente, o milagre suscitou polêmicas agudas. De um lado, os jansenistas, em conformidade com as práticas da época, interpretaram o milagre como uma manifestação sensível da aprovação de Deus a sua causa; de outro, os jesuítas, sobretudo na figura de François Annat, viram no milagre signos da condenação divina às doutrinas jansenistas. Ao ler as controvérsias de acordo com os critérios retóricos que lhes eram típicos, investigaremos como essas práticas letradas suscitaram dispositivos hermenêuticos para a interpretação dos milagres.