AS ESTRATÉGIAS E SOCIABILIDADES DE ESCRAVIZADOS E LIBERTOS NO JULGADO DE NATIVIDADE, TOCANTINS, DOS SÉCULOS XVIII E XIX (1734-1850)
Africanos em Natividade; Mestiçagem; Famílias; Irmandades; Compadrio.
Esta busca investigativa se debruça sobre o julgado de Natividade, antigo Norte de Goiás, atual estado do Tocantins, no período entre 1734, da época em que ouro era a principal atividade socioeconômica da região, até 1850, momento marcado por outras atividades como pecuária, roças, comércio. Para tanto, este trabalho pretende analisar as estratégias e sociabilidades articuladas por escravizados africanos, nascidos no Brasil e por forros. Dos primeiros, para alcançarem a liberdade e, uma vez livres, enfrentarem as barreiras do mundo hierarquizado dos não cativos. Após o descortinar de documentação jurídica-civil e eclesiástica, do cruzamento de documentos como: inventários, testamentos, livros de batismo, livros de termos de mesa da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, processos-crime e a partir das abordagens qualitativas e quantitativas dos dados, além de fontes da história social, observou-se que os escravizados e forros do julgado de Natividade articulavam astúcias micropolíticas cotidianas com o intuito de uma vida melhor tanto para si, como para os seus. Muitas lutas eram geracionais e colhidas não no tempo presente. A maior parte dos africanos que vieram para Natividade provinha da África Ocidental. Eram Mina, que desembarcaram em Salvador e que trouxeram saberes além de corpos. Africanos e forros se organizavam em famílias e redes de afeto, ainda que não legitimadas pela igreja; participavam de irmandades religiosas como fuga da marginalização social, como o Rosário dos Pretos; se aliançavam com outros grupos sociais em relações de compadrio. Havia brechas, que nem todos alcançaram. Muitas mulheres crioulas e algumas africanas tiveram ascensão social. Uma Natividade marcada pela mestiçagem entre grupos de origens, condição e qualidades diversas, de pretos e pardos em sua maioria, que guardava hierarquias quanto às “cores” dos indivíduos nas relações de poder e de tratamento, onde, sobretudo, os sujeitos tanto cativos como libertos agenciavam suas vidas enquanto atores sociais e históricos de seu tempo.