O ESPIRITISMO, A SAÚDE PÚBLICA E A INTERNAÇÃO DA LOUCURA: O caso do Sanatório Espírita Antônio de Paulo Cançado (1952-1984)
Saúde; Espiritismo; Loucura.
O presente trabalho tem como objetivo compreender as relações entre saúde pública e o processo de institucionalização do modelo espírita de internação da loucura em Goiás, a partir do Sanatório Espírita Antônio de Paulo Cançado, localizado na cidade de Jataí (GO). O nosocômio foi fundado em 1966, por meio da Sociedade de Beneficência São Vicente de Paulo, que surgiu no município a partir da associação de membros do movimento espírita kardecista. A instituição foi moldada pelo contexto de consolidação de espaços filantrópicos no estado, pelo interesse do espiritismo kardecista nas questões relacionadas à loucura e pelas políticas públicas de assistência e saúde vigentes no Brasil durante o século XX. Com base em documentos institucionais, periódicos espíritas e relatos narrativos, esta investigação busca compreender os parâmetros históricos que definiram a existência do Sanatório Espírita Antônio de Paulo Cançado, seus contornos institucionais e os significados atribuídos aos conceitos que estruturaram seu funcionamento. Evidencia-se que o grupo espírita desenvolveu modelos explicativos próprios sobre a loucura, mostrando-se capaz de intervir nas normas instituídas, propor políticas e práticas terapêuticas, administrar instituições de internação e mobilizar setores diversos da sociedade, firmando parcerias com o poder público e o setor econômico. Argumenta-se, por fim, que a institucionalização do Sanatório Espírita Antônio de Paulo Cançado ocorreu em um contexto de crescente apoio do Estado à descentralização executiva da assistência tanto social, quanto da saúde, por meio de convênios com entidades filantrópicas particulares. Esse movimento foi acompanhado pela dilatação dos conceitos de pobreza e doença mental à luz da higiene urbana, inseridos na estratégia espírita de legitimação social e (re)afirmação de suas práticas por meio da filantropia. Assim, este trabalho contribui para a compreensão das políticas de construção de instituições filantrópicas em Goiás e da consolidação do modelo kardecista de internação da loucura em Jataí.