“SANGUE NO CAMPO DA HONRA”: Uma análise sobre profissão médica brasileira na Guerra do Paraguai.
Profissão médica. Guerra do Paraguai. Medicina nacional. Classe médica. Produção de escritos médicos.
A presente tese se dedica à compreensão das relações entre profissão médica e Guerra do Paraguai, considerando as diversidades, conflitos e negociações como consequências da aproximação de realidades profissionais civis e militares. Sustenta-se a hipótese de que a conflagração foi momento excepcional para compreensão sobre o que era ser médico no Brasil da segunda metade do século XIX, período profundamente influenciado pela ocorrência bélica. Esta foi marcada pelas doenças, especialmente as de caráter epidêmico em campo de batalha e fora dele, como elementos primordiais a serem considerados nas estratégias de campanha formuladas por Estado e outras autoridades, uma vez que as enfermidades eram as principais causas de baixas por debilitação ou falecimento. O combate e a prevenção a tais perdas foram vertidos em objetivos de urgência do Governo Imperial, pois afetavam a marcha e o sucesso de grupamentos, sobrecarregavam os cofres públicos e manchavam a concepção de nação ilustrada e progressista que era constantemente erigida por aquele com vistas à promoção do sentimento nacional, tão fundamental à angariação de apoio simbólico e efetivo aos seus posicionamentos e empreitadas junto à Tríplice Aliança contra o Paraguai. A preocupação com as pautas de saúde e higiene na campanha era motivada pelo perigo que representariam à ordem pública, caso fossem exportadas do campo de batalha, até mesmo porque a mobilização para o sul para coadjuvação das forças aliadas reduziu significativamente o quadro de doutores que cuidavam do ensino e do atendimento clínico no país. Esse panorama, que contava com problemas outros como as dificuldades de recrutamento e constantes deserções, foi utilizado pela classe médica brasileira, que se formava enquanto tal, como argumento a favor de sua corporação profissional. Ao mesmo tempo em que estes sujeitos foram afetados pela peleja, que sublinhou dilemas enfrentados desde o período anterior à ela e lançou, outrossim, novas questões que punham em jogo suas utilidade e a autoridade, dela se aproveitaram para prova-las ao Estado e outros grupos sociais com vistas a intervirem nas relações que com estes mantinham. A produção de documentos foi tática deveras utilizada e evidente dos movimentos que eram, em essência, plurais. A partir da perscrutação de escritos como relatórios ministeriais, jornais médicos e da grande imprensa, ofícios, correspondências relatos e memórias, aqui se produz uma análise voltada a entender as muitas perplexidades ocasionadas pela ascensão de uma Guerra que durou mais tempo do que o esperado e aproximou diferentes realidades sociais profissionais. A narrativa aqui apresentada repousa na compreensão das consequências advindas destas aproximações, situando-as em relação a como essa estrutura funcionava no período anterior à sua eclosão.