A dissertação aborda as relações entre cristãos e judeus no reino de Castela na segunda metade do século XIV. Nesse recorte, comunidades judaicas foram atacadas, saqueadas e incendiadas em diversas localidades. A partir da análise de documentos normativos e narrativos, a pesquisa propõe reflexões sobre a violência numa perspectiva ideológica, baseada na obra de Zizek (2008). A investigação das Siete Partidas, Ordenamento de Alcalá de Henares (1348) e das Crónicas de Los Reyes de Castilla se apropria de elementos metodológicos do contextualismo da escola de Cambridge com o intuito de explicitar os pressupostos ideológicos que condicionavam a percepção e a experiência cristã da violência, com foco especial nas hostilidades direcionadas aos judeus. A dissertação se inicia com os relatos de massacres e destruições de bairros judeus em 1391. Na ocasião, judiarias de diversas cidades foram atacadas e a maioria de seus integrantes foram assassinados, forçadamente convertidos e/ou saqueados. A partir disso, a pesquisa explora os conceitos de convivencia e "Reconquista" e os relaciona com o antijudaísmo cristão castelhano. Com isso, a análise documental demonstra que a violência cristã contra judeus apresentava um caráter político, que se consolidou durante a guerra civil entre Pedro I de Castela e Enrique de Trastâmara. O último capítulo é dedicado a contrastar os resultados da abordagem teórico-metodológica escolhida com outras explicações sobre violência medieval. Por fim, a pesquisa demonstra que os relatos das hostilidades operavam uma oscilação ontológica na violência devido a uma modulação de mesma natureza operada na comunidade cristã.