Cartografias do possível: distopias literárias feministas e o tempo no estudo da História
Distopia. Tempo. Distopia literária feminista. Escrita da história. Corpo.
A presente tese norteou-se pelo exame de como as reflexões que a imaginação distópica, em sua manifestação literária feminista, proporciona sobre o conceito e a experiência do tempo podem fazer dessa forma de pensar uma ferramenta para o estudo da história. Para isso, analisou-se a linguagem utilizada pelas autoras de três romances distópicos feministas para traduzir em texto a experiência do tempo, pelo emprego de figuras e analogias que transformam o corpo de mulheres em vetores e espaços de experimentação do tempo. As três obras foram selecionadas por se enquadrarem no gênero das distopias literárias (com contornos feministas) e terem autoria feminina. Também têm em comum tramas que se desenvolvem a partir do controle sexual e reprodutivo de mulheres, elemento do enredo que faz com que corpos femininos ganhem destaque na construção das narrativas. As três obras (As Horas Vermelhas, de Leni Zumas, 2018; Future Home of the Living God, de Louise Erdrich, 2017; When She Woke, de Hillary Jordan, 2011) são relativamente bastante recentes, publicadas já na segunda década do século XXI, e apresentam como recorte espacial os EUA. A partir do estudo dessas três obras, foi possível identificar um modo peculiar de temporalização do tempo – a transformação do tempo em temporalidades – que está relacionada a uma experiência gendrada do tempo, ou seja, uma experiência atravessada por questões de gênero. Nessa perspectiva, entendeu-se que a escrita do corpo é uma maneira de transportar para o texto formas de apreensão e interpretação do tempo, sendo a distopia literária um exercício de reflexão sobre tempo e temporalidades. Com isso, a pesquisa indicou, ainda, que a escrita é um recurso metodológico e faz parte da construção de um raciocínio, do desenvolvimento de um argumento. A presente tese é, por esse viés, exercício de argumentação sobre a proposta de que a distopia é uma interessante ferramenta para a história quando se trata de reflexões sobre tempo, elemento basilar de nossa disciplina.