Origem e dinâmica do mercúrio em sedimentos da bacia do alto Madeira
garimpo; Amazônia; mercúrio; geoquímica ambiental; avaliação de risco
A bacia do Rio Madeira é alvo da exploração de ouro através de minerações artesanais e de pequena escala/garimpo desde o início do século XIX. Nesse contexto, o mercúrio (Hg) – metal conhecido pela sua alta toxicidade – é utilizado para concentrar o ouro fino. Neste trabalho foram analisadas amostras de sedimento (margem e centro) e água (dissolvido e particulado) do rio Madeira à montante da cidade de Jaci-Paraná (Rondônia, BR) e de seus principais contribuintes (rios Beni, Madre de Diós e Mamoré), além de amostras de uma draga garimpeira no rio Madeira. A composição elementar das amostras sólidas possui pouca variação entre as amostras naturais, com variações apenas no grau de enriquecimento ou empobrecimento (principalmente nas amostras de sedimento de centro). A assembleia mineralógica dos finos consiste em filossilicatos 2:1 e 1:1, óxidos e hidróxidos de Fe, Al e Ti e quartzo, em diferentes proporções. A composição química e análise isotópica de Sr dissolvido permitiram diferenciar os diferentes afluentes e a proveniência desses elementos dissolvido, onde 87Sr/86Sr ≈ 0,71 em rios que drenam rochas andinas e 87Sr/86Sr ≈ 0,72 em rios com contribuição de rochas do escudo do Brasil Central. Não foram encontradas concentrações de Hg dissolvido acima do limite de detecção do método. Nas amostras sólidas naturais, a concentração de Hg varia de 17,6 - 547,8 ng g-1 , enquanto nas amostras contaminadas coletadas na draga a concentração de Hg chega até 1447,4 x 10³ ng g -1 . A concentração de Hg total apresenta um incremento de 2x entre MPS>margem>centro. A principal fase portadora nos sedimentos de margem são os filossilicatos aluminosos e óxihidróxidos de Fe e Al. No MPS o Hg não parece ser muito associado às fases minerais e pode estar ligado a grupos funcionais de S da matéria orgânica. A amostra de rejeito sólido da draga de garimpo é extremamente enriquecida em Hg (EF=91,27) quando comparada com a concentração da crosta continental superior (0,05 ng g-1 ) e extremamente poluída por Hg (Igeo = 10,95). A avaliação de risco a saúde indica que o rejeito é extremamente perigoso (HI>1) para adultos (HI=8,1) e crianças (HI=15,6). Cerca de 26% do Hg presente no rejeito tem maior labilidade e pode ser rapidamente mobilizado e disponibilizado no meio, de acordo com o procedimento de extração sequencial aplicado. Embora a concentração de Hg nos rejeitos sejam elevadíssimas e ofereçam um grande risco ambiental e à saúde humana, quando esse material entra no rio Madeira sofre uma grande diluição devido ao enorme volume de água e sedimento transportado. Essa diluição é vista nos resultados obtidos e dificulta a caracterização de um background e a caracterização da origem do Hg no meio. Entretanto, apesar da diluição, foi encontrado um hotspot de Hg em amostra de sedimento de centro em área de cachoeira, com concentrações 25x maiores que a média desse compartimento. Isso indica que os minerais pesados são capazes de carregar Hg antrópico.