Corpo e Mal-estar: A cirurgia bariátrica e seu aspecto (in)tratável
Corpo; Mal-estar; Cirurgia Bariátrica; psicanálise.
O corpo que interessa à psicanálise não é apenas o corpo de carne e osso, mas um corpo tomado
como um conjunto de elementos significantes, um corpo pulsional. A existência corporal está imbuída no
contexto social e cultural, onde o corpo configura-se como um dos principais espaços simbólicos na
construção dos modos de subjetividade dos sujeitos. E o corpo, espelho da subjetividade, parece ser o
lugar em que todas as formas de mal-estar e sofrimento terminam por serem registradas, encontrando
vazão nas mais diversas manifestações. No vazio existencial produzido pela evaporação das visões de
mundo, numa ordem social totalmente perpassada pela ciência e o capital, o desamparo do sujeito se
tornou agudo e assumiu formas até então inexistentes, onde a devoção permanente em relação ao corpo
leva a uma preocupação com a aceitação social e gera fenômenos que superam a lógica da saúde. Nesse
sentido, esse trabalho tem como objetivo analisar o enunciado do corpo a partir do recorte da cirurgia
bariátrica, em como o procedimento acaba por dizer das relações internas à sociedade e, nele vai se
expressar a busca do sujeito por um ideal de satisfação, a partir da fantasia de uma imagem idealizada de
corpo, e junto dessa imagem fantasiada uma inquietação, por nunca a alcançar plenamente, por ser essa
sempre do corpo Ideal. A pesquisa parte de uma posição acerca da interface Psicanálise e Cultura,
trazendo contribuições de Freud, Lacan, Le Breton e outros autores, acreditando que é na análise dos
limites e impasses desses dois campos que se possa chegar a uma contribuição mútua, e por esse viés
interpretativo, torna-se possível, um permanente diálogo da psicanálise com as ciências sociais. Esta é
uma pesquisa teórico-prática, a partir de teorias psicanalíticas e sociológicas, bem como de método de
investigação e escrita em Psicanálise. A forma como o sujeito dá significado ao sofrimento sempre esteve
intimamente relacionada à elaboração acerca da cultura, assim como, a forma como passamos a agir
socialmente. Assistimos ao homem contemporâneo, envolto de seu mal-estar, em uma tentativa incessante
de suprir sua falta e impedir o sofrimento psíquico, principalmente pela via do consumo de objetos
ofertados pela ciência e o pelo capitalismo, os quais, imaginariamente, o sujeito acha serem capazes de
satisfazer seu desejo.