Adolescência no limite: dispositivo plurifocal como modelo de cuidado
adolescência; casos-limites; dispositivo; enquadre
:A teoria psicanalítica compreende a adolescência enquanto o interstício entre a infância e a vida adulta. Trata-se de uma fase marcada por mudanças biológicas relativas à puberdade, mas também psicológicas, diante das novas exigências internas e externas, que fragilizam o narcisismo adolescente. A fragilidade das fronteiras do adolescente implica em algumas problemáticas limítrofes nesse período, como o pubertário, o comportamento de dependência e a incapacidade de realizar o trabalho de luto da infância. Ocorre assim uma aproximação da adolescência com os estados limites, marcados por uma desorganização e uma incapacidade de simbolização, exigindo que o sujeito recorra ao ato para lidar com essas questões, seja através de comportamentos de automutilação, tentativas de suicídio, uso de drogas ou outros atos dessimbolizantes. Assim, a psicanálise e o enquadre clássica não são adequadas para dar conta da clínica dos limites na adolescência, é preciso assim pensar a técnica a partir do modelo do ato e do dispositivo clínico enquanto dispositivo simbolizante. A noção de terapia bifocal surgiu justamente diante das dificuldades de se atender adolescentes no limite, a partir da articulação de dois terapeutas que irão atuar em conjunto, mas em enquadres distintos e com objetivos distintos. A integração das consultas terapêuticas winnicottianas a essa modalidade de atendimento constitui o que seria um dispositivo plurifocal, possibilitando um trabalho a ser realizado com os pais ou familiares dos adolescentes, permitindo intervenções e mudanças no que tange a esse ambiente frágil e instável em seu amadurecimento. Dessa forma, o presente trabalho utilizou o método da construção de caso para abordar a construção de um dispositivo plurifocal no atendimento de duas adolescentes limítrofes em um serviçoescola de psicologia. Ao longo dos atendimentos, percebeu-se alguns resultados terapêuticos, como a diminuição de comportamentos impulsivos e de automutilação por meio do dispositivo clínico simbolizante e manejo terapêutico e do enquadre enquanto meio maleável, e também a possibilidade de encontrar uma boa distância relacional, através da diluição da transferência em enquadres distintos e com terapeutas distintos, permitindo um melhor manejo da transferência, agora lateralizada. Apesar de algumas dificuldades, inerentes ao trabalho analítico, inclusive pela própria complexidade da clínica e dos casos trabalhados, como resultado foi observado que esse tipo de dispositivo clínico é possível de ser realizado e sustentado, propiciando um ambiente de escuta e cuidado para esses pacientes.