Estigma, percepção de doença e relacionamentos afetivo-sexuais em pessoas vivendo com HIV
HIV relacionamentos afetivo-sexuais, estigma, percepção de doença
O objetivo da dissertação, composta de dois artigos, foi investigar a vivência dos relacionamentos afetivo-sexuais de pessoas vivendo com HIV (PVHIV), bem como a percepção de doença e do estigma relacionado ao HIV, todas em tratamento em serviços de saúde do Distrito Federal. O primeiro artigo analisou características dos relacionamentos afetivo-sexuais de PVHIV, mediante uma revisão integrativa de literatura. O segundo artigo, de corte transversal com delineamento misto, foi realizado com 50 PVHIV, a maioria do sexo masculino (78%), com idades de 21 a 64 anos (M = 39,50; DP = 12,14), de cor parda (50%), com nível superior completo (24%), de orientação homossexual (52%) e com carga viral indetectável (90%). Os resultados descritivos indicaram que os participantes percebiam o HIV de forma não ameaçadora (M = 19,42; DP = 12,03), mas houve diversidade na amostra; foi maior a percepção de estigma relacionado à soropositividade (M = 30,72; DP = 5,38), com correlação positiva moderada entre essas duas variáveis (r = 0,47; p ≤ 0,01, 22,1% de variância compartilhada). Medianas dos escores de percepção de doença e de estigma foram comparadas em relação a subgrupos de variáveis sociodemográficas e clínicas, pelo teste Mann-Whitney. Análises indicaram que a renda familiar diferenciou os dois grupos (U =141,000; p = 000,2): pessoas com renda de até três salários-mínimos obtiveram valores da mediana mais altos, revelando percepção mais ameaçadora da soropositividade, se comparadas aos participantes com renda mais elevada. Não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas em relação às demais variáveis analisadas. Na análise qualitativa, com uso do software IRAMUTEQ, o corpus gerou cinco classes, que receberam as seguintes denominações na Classificação Hierárquica Descendente: (1) revelação do diagnóstico; (2) dificuldades de relacionamento no viver com HIV; (3) vantagens e desafios da prevenção; (4) mudanças nos relacionamentos após o diagnóstico; (5) vida antes do diagnóstico de HIV. A análise de conteúdo dos relatos contidos nas cinco classes permitiu a identificação de temas associados que foram ilustrados com trechos de falas representativas. Os resultados dos dois trabalhos da dissertação permitem concluir que o HIV repercute na vivência de relacionamentos afetivo-sexuais de PVHIV, na percepção de estigma e da condição crônica, tanto no que se refere à conjugalidade, quanto em relacionamentos não estáveis. As PVHIV apontam desejo de viver relacionamentos ou relações apesar do diagnóstico, mas a sua revelação é vivenciada com tensão e preocupação. Há priorização de estratégias preventivas para garantir maior segurança nos relacionamentos, além de uma ressignificação do sentido da vida, investindo em outras áreas, como o autocuidado. Ademais, percebe-se a compreensão do HIV como uma condição crônica e não uma doença letal.