O Fio que Conduz uma Análise: Desejo e Transferência na Clínica Psicanalítica On-Line
desejo; transferência; desejo do analista; clínica online.
A presente pesquisa teve como objetivo investigar como o desejo e a transferência, pensados como aspectos motrizes na clínica psicanalítica, sustentam a possibilidade da análise no dispositivo on-line, mediante as mudanças subjetivas e culturais da contemporaneidade. Para isso, analisamos a noção de desejo enquanto motor psíquico a partir da filosofia clássica ocidental, o que serviu de preâmbulo para uma investigação teórica sobre a gênese e as transformações da noção de desejo e sua articulação com a transferência em psicanálise a partir da obra de Freud e de Lacan. Em Freud, partimos da investigação do desejo e de sua relevância para a metapsicologia, em especial para a teoria do narcisismo e das pulsões, desde os escritos pré-psicanalíticos, até a proposição da pulsão de morte no momento entre guerras. Em Lacan, com a contribuição topológica do Grafo do Desejo, sustentamos que a constituição do sujeito do inconsciente, em sua articulação com o desejo enquanto causa e como objeto mais-de-gozar, torna evidente a estrutura virtual do sujeito e da fala na experiência do inconsciente que é imprescindível à análise. Argumentamos que esse aspecto estrutural, próprio da linguagem, viabiliza, então, que a análise aconteça também no dispositivo on-line, uma vez que se mantenha garantida a possibilidade do sujeito falar. A partir disso, as condições para que se estabeleça a transferência precisam ser consideradas. Assim, no último capítulo, desejo, desejo do analista e transferência são articulados, ponderando-se suas especificidades na clínica psicanalítica on-line, em especial o lugar do corpo para a psicanálise, bem como do corpo e da presença do analista, enquanto semblante de objeto a de seu ato, ao longo do tratamento. No último capítulo, foram também abordados alguns impasses do cenário virtual e como estes podem ser manejados. Dentre os quais, destacam-se os diferentes aspectos dos objetos pulsionais mediados pela tela, em especial a pulsão invocante e a pulsão escópica, a segurança dos dados no contexto virtual, o manejo do tempo e do pagamento, e os riscos da incidência do discurso do capitalista sobre a escolha do setting on-line em detrimento do físico. Sustentamos que cabe, então, ao analista, com seu ato, também presentificado no contexto online a partir de seu discurso e de seu desejo advertido manejar, com seu próprio estilo, os possíveis impasses que não deixam de ser ocorrências no singular de cada sujeito, a cada momento em que o inconsciente se faz virtualmente presente