Os afetos da guerra: saúde, justiça e psicanálise nas políticas antidrogas
guerra às drogas; psicanálise; políticas sobre drogas; justiça; política de saúde
Trata-se de um trabalho teórico que, a partir do referencial psicanalítico, aborda o tema da
“guerra às drogas”. Esta é entendida como o conjunto de práticas sociais e institucionais que visam a
eliminação do consumo e do comércio de drogas. As estratégias basilares usadas para alcançar o ideal de
um mundo sem drogas são a criminalização e a medicalização, que formam um amplo espectro de práticas
intrincadas que podem estar orientadas para a preservação das vidas ou para a eliminação da alteridade.
Com base no entendimento de que o cuidado e o extermínio de vidas implicam em modos relacionais e
processos de subjetivação distintos, esta tese tem o objetivo de delinear aspectos psíquicos dos sujeitos do
poder da “guerra às drogas” – isto é, dos indivíduos que materializam as políticas e práticas antidrogas.
Para alcançar este objetivo, a tese foi estruturada em três artigos individuais, que são interligados e
complementares entre si, seguidos por um capítulo final que relaciona e integra as análises e discussões
realizadas nas seções anteriores. O primeiro artigo faz uma análise da história do controle do uso e
comércio de drogas no Brasil para demonstrar que a “guerra às drogas” se estruturou como um espectro de
políticas e práticas intrincadas que integram um mesmo dispositivo formado para submeter negros e
pobres. Os outros dois também se debruçam sobre a realidade brasileira e são dedicados a, com foco nos
afetos, depreender diferentes aspectos psíquicos envolvidos na reprodução da “guerra às drogas”.
Considerando que os discursos e as práticas hegemônicas da justiça e da saúde tendem a incitar processos
subjetivos distintos – ainda que tais processos não lhes sejam privativos –, o segundo aborda a justiça e o
terceiro, a saúde. Conclui-se que as atividades psíquicas discutidas se constituíram ao longo da história
brasileira de dominação de negros e pobres, e que seu estudo pode ser importante baliza para planejar
intervenções micropolíticas junto aos indivíduos que perpetuam as políticas e práticas antidrogas. A
desconstrução dessa “guerra” requer uma atuação política que evite reproduzir a mesma lógica social,
psíquica e afetiva que os constitui enquanto sujeitos do poder.