Consultas Terapêuticas e o DF-E: um Dispositivo para a Família na Clínica da Adolescência
adolescência; consultas terapêuticas; DF-E; família; psicanálise;
A travessia da adolescência produz uma verdadeira turbulência: as mudanças corporais, a intensidade da experiência pulsional, a transformação do esquema de representações da infância incluindo o corpo, as identificações e as mudanças no modo de relações com os pais. Esses aspectos colocam o adolescente frente ao imperativo do trabalho de elaboração para o qual o aparelho psíquico, muitas vezes, não se encontra apto a realizar. Nestas circunstâncias, o ambiente familiar do adolescente é convocado a dar ainda mais suporte para sua turbulência, exigindo um trabalho de gestão de angústias e conflitos que envolvem intimamente os membros da família e provocam as relações em seus limites. Assim, o objetivo do presente trabalho é propor a criação de um dispositivo clínico de atenção aos familiares de adolescentes atendidos em um serviço-escola de psicologia da Universidade de Brasília. As consultas terapêuticas winnicottianas foram escolhidas como metodologia por sua brevidade, flexibilidade e capacidade de estabelecimento de uma comunicação significativa com os familiares, objetivando dar suporte às suas angústias e à efetivação de um trabalho de simbolização. O DF-E, técnica de investigação da personalidade e de aspectos relacionados à dinâmica familiar, foi utilizado enquanto um jogo durante as consultas, almejando a emergência dos focos nodais de conflito vivenciados pelos pacientes. Neste estudo foram contempladas três famílias. Como resultado da pesquisa, foram apresentados quatro produtos. O primeiro destina-se a conceituação do método das consultas terapêuticas winnicottianas, destacando seu contexto de surgimento, seus fundamentos e sua aplicação na clínica infantojuvenil. O segundo foi um estudo de caso de uma adolescente de 17 anos e seus familiares, que visou discorrer sobre a implementação das consultas terapêuticas com familiares no contexto do atendimento a adolescentes no serviço-escola de psicologia. A escuta da família permitiu desidentificar a demanda da adolescente da demanda dos pais, realizar um diagnóstico da dinâmica familiar e intervir com a família para o estreitamento dos laços familiares. O terceiro teve como finalidade a introdução do DF-E como um jogo simbolizante no decorrer das consultas realizadas. Nesta produção, são apresentadas vinhetas clínicas de um caso familiar composto por pai, mãe e adolescente de 14 anos, as unidades de produção de cada membro demonstram entrelaçamentos entre o sofrimento do adolescente e os aspectos psíquicos não trabalhados pelos pais. Por fim, o quarto produto apresentou um estudo de caso de uma díade composta por uma adolescente de 13 anos e sua mãe. A dinâmica simbiótica estabelecida entre a dupla foi revelada ao longo das consultas terapêuticas e na aplicação do DF-E, assim como as tentativas da adolescente de realizar a separação com a mãe, pela via do ato. A implementação de um dispositivo clínico voltado ao acolhimento das famílias demonstrou ser um recurso valioso na clínica da adolescência, pois a contenção do sofrimento familiar possibilita um fortalecimento do ambiente, que se torna então capaz de servir de continente para os adolescentes