Imagens e escritas para você, leitora: um ensaio feminista do estranho freudiano diante da abjeção nas fotografias de Diane Arbus.
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A partir da premissa de indissolubilidade entre forma e conteúdo (Adorno, 2003/1954), faço dessa escrita um ensaio de crítica ao eu hegemônico científico, um rasgo na produção cisheteropatriarcal e colonial. Trago em corpos de textos e imagens a relevância dos saberes localizados (Haraway, 1995/1987). A pesquisa se dá a partir da minha experiência com a abjeção (Butler, 2009) na obra fotográfica de Diane Arbus, sendo o desdobramento desta experiência uma escrita tensionada pelas contribuições do feminismo sobre o texto “O Estranho” de Freud (1919/2019); assim, estranho e abjeto se encontram nas fotos de Arbus. Com isso, a questão central da pesquisa é: como a abjeção pode provocar novas leituras da psicanálise, em especial sobre a noção freudiana de estranho? Diane Arbus (1923-1971) foi uma fotógrafa norte-americana que retratou os extremos sociais de sua época, de aristocratas e pessoas famosas a pessoas marginalizadas, dissidentes, localizadas em extremos sociais, chamadas por ela de freaks. A fotógrafa fez uso do tensionamento das normativas sociais dando novos enquadramentos tanto aos corpos dissidentes e marginalizados, quanto ironizando os supostos humanos que cabem nas normas familiarizadas. A poética do efeito Arbus acontece no alargamento das margens e na profusão das ambiguidades, produzidas por meticulosas técnicas fotográficas através das quais ela fotografava o instante de lacuna entre a intenção e o efeito, espontaneidade e pose de seus freaks. Por fim, proponho que o estranho – agora atravessado pela precariedade que o abjeto explicita – torna-se constituído pelo desamparo, e não mais pela castração; relocalizando o conceito de estranho através das fotografias, dos feminismos e teorias decoloniais, de modo a tensionar as raízes patriarcais e coloniais de Freud, restabeleço o desamparo que o constitui. A experiência com Arbus torna o abjeto estranho ao enquadrá-lo nas fotografias, como também torna estranho o que antes era familiar. O abjeto retratado como estranho faz margem à norma, constituindo-a de fora por expulsão e, ao mesmo tempo, desestabilizando-a em nós, leitora.