AS PRETAS NÃO TÊM DIGNIDADE DE RAINHAS”: SILENCIAMENTO E RESISTÊNCIA EM AS MULHERES DO IMPERADOR, DE UNGULANI BA KA KHOSA
literatura-história de Moçambique; Ungulani Ba Ka Khosa; as mulheres do imperador; resistência; silenciamento.
Neste trabalho problematizo a inviabilização de figuras femininas no processo de construção da história de Moçambique e da moçambicanização. Meu objetivo é ressignificar a história das mulheres de Ngungunhana, o último imperador de Gaza, devolvendo a elas voz e visibilidade necessárias. Para isso, explicarei através do romance As mulheres do imperador do escritor moçambicano Ungulani Ba ka Khosa, partindo da noção de interseccionalidade e de imigrantes nacionais, quem são essas mulheres, como elas resistiram e demonstrarei as fissuras históricas que colocam outras mulheres em lugares de coadjuvantes. A narrativa em análise permite-nos entender que as mulheres em Moçambique não entraram em combate apenas aquando da luta de libertação nacional, pois, na verdade, elas sempre estiveram lá. Em silêncio deram seus gritos, seu sangue, filhos e filhas, e se entregaram por uma mátria, uma pátria que acreditaram um dia alcançar. Entretanto, muitas como as minhas rainhas foram forçadas a estar nesses lugares, a fazerem história e assim tornaram-se heroínas típicas. Outras não, entregaram-se por livre e espontânea vontade. Quem são e onde estão representadas todas essas mulheres? O silêncio e o apagamento têm sido estratégias históricas eficazes para desempoderar mulheres e empoderar homens, já que nossas histórias são construídas na medida do falo. Assim sendo, torna-se necessário dessepultar nossas mães e construir um novo imaginário histórico-político-social para nossas filhas e filhos, afinal Moçambique não é hermafrodita.