Mulheres que Conjuram: o discurso do horror na literatura especulativa de autoria feminina negra.
conjuração; discurso do horror negro; literatura afro-americana; Octavia Butler; N.K. Jemisin.
Embora os romances Kindred: Laços de Sangue (2017 [1979]), de Octavia Butler e A Quinta Estação (2017 [2015]), de N. K. Jemisin sejam comumente lidos como obras de fantasia ou ficção científica, existem elementos, tanto narrativos como estruturais, que balizam uma interpretação enfocada nas experiências aterrorizantes vivenciadas pelas heroínas. Por meio de uma análise comparativa, investigo como as autoras dessas obras conjuram (Pryse; Spillers, 1985), isto é, intervêm no real, elaborando um discurso do horror que atravessa as narrativas especulativas contemporâneas protagonizadas por heroínas Negras que também conjuram (elas usam magia para modificar as circunstâncias desfavoráveis (Martin, 2012)). No intuito de compreender de que modo o horror como experiência – não uma reivindicação de gênero – se revela nas diferentes temporalidades e mundos criados por autoras Negras de grande relevância, como Butler e Jemisin, avalio as reentrâncias das obras em subgêneros especulativos, embasadas pelo conceito de ficção fluida, da teórica Kinitra Brooks (2017). Também contextualizo o meu entendimento do gênero horror negro, a partir do que foi teorizado por Robin Means Coleman (2019 [2013]), em contraste com o que a minha hipótese presentifica: uma poética específica de autoria feminina e Negra, tratada aqui como discurso do horror. Em diálogo com a tradição literária, teórica e feminista negra, busco, por fim, compreender de que modo a literatura especulativa de autoria feminina e Negra contribui para o pensamento feminista negro e desestabiliza tanto o cânone clássico, como o da literatura de gênero.