A OBRA DE STEPHEN KING COMO BASILAR AOS ESTUDOS DA LITERATURA DE MEDO CONTEMPORÂNEA
Gótico; Horror; Medo; Stephen King.
Os estudos acerca da literatura de medo se estendem a diversas perspectivas, o que inclui a análise de questões históricas e culturais que envolvem o insólito nas artes. Desde o reconhecimento do termo “gótico” como oriundo de “Godos” (com considerações acerca das tribos Visigodos e Ostrogodos) até a interpretação do horror na literatura dos séculos XX e XXI há um longo caminho de identificação teórica sobre o medo nas artes. A estética do Gótico na literatura, ideia aqui abordada a partir das considerações de Júlio França e Oscar Nestarez (2022), trabalha com o medo em posição-chave a partir de elementos essenciais a essa espécie de ficção, como a identificação de uma ameaça, do espaço insalubre e as memórias de um passado que se recusa a ir embora, o que pode ser associado aos estudos do trauma e do luto em perspectiva psicodinâmica. A partir dos estudos do Gótico torna-se possível realizar interpretações sobre a forma narrativa que visa estender o medo entre personagens aos leitores, a qual receberá o nome de horror e poderá ser observada tanto na literatura quanto em outras artes, associada a ideia de “literatura de medo” aqui compreendida com o auxílio dos estudos de França (2022). É importante a consideração de que o meio audiovisual atua em parceria à literatura no que condiz à teoria e popularidade do horror contemporâneo, o que justifica a leitura de diversos textos em junção à apreciação de longas-metragens, em especial adaptações cinematográficas de narrativas já existentes. Em meio ao sucesso comercial nos meios literário e fílmico está Stephen King, escritor cujos livros são foco deste estudo. O autor explora o medo antes vinculado à ambientação do romance nos séculos XVIII e XIX no horror literário contemporâneo, abordando especificidades da própria época enquanto utiliza-se de elementos como Terror, Horror e Repulsa, postulados por ele em Dança Macabra (originalmente publicado em 1981). Com o auxílio das ideias de França e Nestarez, além de considerações do unheimliche freudiano de 1919, é possível identificar a obra de King como parte de um corpus que explora a completude dos estudos da literatura de medo, em especial a contemporânea. Com maior foco no romance IT – A coisa, percebe-se o horror expondo o descaso que grupos economicamente dominantes direcionam àqueles que são constantemente explorados e marginalizados. Junto a essa observação, a interpretação do romance possibilita a identificação da personagem Coisa como a representação do descaso e da indiferença em relações interpessoais, além de traumas de um passado que não se esvai; e, em sentido amplo, há a figura monstruosa metamorfa enquanto a sintetização da teoria literária do medo