EM DIREÇÃO À SERENIDADE INQUIETA – UMA TRADUÇÃO COMENTADA DE MOTS DE PASSE (2014), DE MARIE-CLAIRE BANCQUART
Mots de passe; Marie-Claire Bancquart; Poesia contemporânea; Tradução comentada; Ritmo; Estudos Feministas da Tradução.
Esta pesquisa tem origem em uma dupla aspiração: por um lado, recriar, na língua portuguesa falada no Brasil, a voz poética singular de uma poeta da literatura francesa contemporânea — Marie-Claire Bancquart —; por outro, refletir, a partir da tradução de seus poemas, sobre as implicações éticas, estéticas e políticas da tradução literária. Tecendo um diálogo entre a crítica literária especializada na obra bancquartiana, a tradutologia e os Estudos Feministas da Tradução (EFT), busca-se desenvolver uma estratégia de tradução que leve em consideração o discurso da poeta, o ritmo de sua poesia — assim como o conceito é compreendido por Meschonnic e De Lobtinière-Harwood. Ao mesmo tempo, são levantados questionamentos a respeito do que significa traduzir poesia enquanto mulher e da importância de traduzir a poesia escrita por outras mulheres. A escolha da obra Mots de passe (2014) como corpus central do trabalho não foi arbitrária. Trata-se de um dos últimos livros publicados em vida pela poeta e de um dos mais maduros em sua exploração do ritmo e da serenidade inquieta, noção que será retomada ao longo desta tese. Propõe-se, em linhas gerais, uma tradução comentada da obra em questão, acompanhada por reflexões críticas sobre os procedimentos utilizados para conseguir recriar, em português brasileiro, a densidade semântica, o ritmo, e as escolhas formais feitas por Bancquart na língua de partida — o francês. O trabalho foi inteiramente guiado pela preocupação constante de fazer a prática tradutória dialogar com a crítica literária especializada, bem como com as teorias contemporâneas da tradução, em particular aquelas que se dedicam a uma leitura engajada e não neutra dos textos literários, e que reavaliam o lugar das mulheres na história da literatura. É também por isso que este trabalho se inscreve na contracorrente de uma tradição crítica que, com demasiada frequência, invisibilizou as mulheres poetas, tanto nos países francófonos quanto em outros lugares.