Sistemas físico-comportamentais como mecanismos de controle de movimentação da ictiofauna em usinas hidrelétricas.
Dissuasão de ictiofauna; Barreiras comportamentais; Confinamento de peixes; Efeito comportamental; Peixes amazônicos.
A energia hidrelétrica é considerada uma fonte de energia renovável e limpa, e é a principal fonte de energia na matriz energética brasileira. No entanto, a expansão do setor hidroelétrico na região amazônica exige uma avaliação cuidadosa dos possíveis impactos ambientais decorrentes dessa atividade. Durante a manutenção das unidades geradoras, a manobra operacional de parada da turbina pode resultar em baixa vazão, levando ao acúmulo de peixes dentro do tubo de sucção. Para minimizar o confinamento e os possíveis riscos à ictiofauna, diversas estratégias de repulsão foram desenvolvidas. Este estudo investigou os efeitos de três estratégias de repulsão de peixes. A primeira estratégia foi o procedimento operacional desenvolvido pela Usina Hidrelétrica de Jirau, que consiste na elevação da velocidade do fluxo hidráulico devido à redução da área de descarga do tubo de sucção. Os resultados da avaliação da manobra indicam uma redução de 87% na movimentação da ictiofauna após o aumento da vazão hidráulica. Esse procedimento de manutenção, associado ao monitoramento em tempo real no tubo de sucção, impacta positivamente na conservação da ictiofauna e nos custos econômicos com a parada da unidade geradora. A segunda estratégia avaliada foi a manobra operativa de dissuasão da ictiofauna pela dispersão de bolhas. O procedimento de dispersão de bolhas foi feito utilizando o sistema de injeção de ar comprimido embutido no tubo de sucção das Unidades Geradoras da UHE Jirau, no rio Madeira, Rondônia. Os resultados mostram uma redução de cerca de 42% na movimentação da ictiofauna após o procedimento de dispersão de bolhas, possibilitando inferir uma considerável diminuição no confinamento da ictiofauna no tubo de sucção. A terceira estratégia investigada foi a barreira acústica. Para o desenvolvimento desse método, foi necessária a caracterização da paisagem sonora aérea e subaquática nas proximidades da UHE Jirau. Os resultados indicaram que a interferência dos sons gerados pela usina na paisagem sonora da região ocorre somente em áreas muito próximas a ela, ou seja, com pouco impacto ambiental. Para complementar a investigação, foram realizados testes no vertedouro da Usina de Jirau para avaliar o impacto de quatro diferentes configurações de ruído: rosa, trovão, de tiro e um com componentes tonais bem definidos, monitorando a movimentação dos peixes antes e durante a exposição ao som. Os resultados indicam que todas as configurações de ruído têm o potencial de aumentar a movimentação dos peixes, mas com diferentes níveis de desempenho. O som com componentes tonais, por exemplo, aumentou em 57% a movimentação dos peixes, enquanto o ruído de trovão apresentou um aumento de 43%, seguido pelo ruído de tiro, com um aumento de 37%, e pelo ruído rosa, que apresentou um aumento de 29%. De forma geral, as três estratégias avaliadas de mostraram eficazes na minimização de possíveis os impactos a fauna aquática decorrentes da geração de energia hidrelétrica na região amazônica.