A REPRESSÃO À GUERRILHA DO GUAMÁ ENTRE 1981 E 1985: Camponeses excluídos da Justiça de Transição
“Ditadura Civil-Empresarial-Militar”; “Reparação”; “Gleba Cidapar”; “Resistência Camponesa”; “Modernização do Campo”; “Projetos de integração da Amazônia”.
A pesquisa aborda o chamado conflito da Gleba Cidapar, ocorrido na Amazônia oriental, nordeste do Pará, no município de Viseu, entre os rios Gurupi e Piriá. O conflito atingiu seu período mais sangrento com a chegada do Grupo Joaquim Oliveira S.A. na Gleba, no período em que a ditadura civil-militar comandava a sua transição ao estado democrático de direito (1979-1985), dentro do contexto de modernização do campo. Ocorre que a região já era secularmente ocupada por camponeses, indígenas e quilombolas, os quais se organizaram para resistir aos projetos de desenvolvimento do Estado ditatorial inicialmente de forma pacífica. Entretanto, diante da omissão e conivência do Estado com o grupo empresarial, que passou a se utilizar de pistoleiros para expulsar os ocupantes das terras, a comunidade decidiu pela resistência combinando luta política e luta armada, no formato de guerrilha camponesa. Quintino da Silva Lira assumiu o comando militar da resistência, articulando-se com os outros grupos armados, os autodenominados gatilheiros, enquanto o comando político, formado por lideranças comunitárias, encaminhava as reivindicações, de forma coordenada. Pressionado a dar uma solução ao conflito, o Governo do Estado do Pará enviou tropas da Polícia Militar para realizar uma verdadeira caçada humana aos gatilheiros. Nesse processo, as mais diversas graves violações de direitos humanos foram perpetradas contra as comunidades. Passado o período de exceção, faz-se necessário a implantação de políticas de justiça de transição pelo Estado brasileiro para a construção da democracia. Entretanto, os camponeses da Gleba Cidapar foram excluídos desses mecanismos, de forma que o presente estudo busca saber os motivos pelos quais isto ocorreu. Para responder à pergunta de pesquisa, utilizou-se da pesquisa documental e de entrevistas semiestruturadas, cujos dados foram tratados com base na análise de conteúdo. O trabalho identificou a luta camponesa pela terra como ação política e, como tal, foi reprimida pela ditadura. Entretanto, nem sempre é reconhecida desta forma pelo Estado e pela sociedade.