MEMÓRIAS E SABERES EM REFERÊNCIAS SOCIOCULTURAIS NATRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA DO ASSENTAMENTO DE REFORMAAGRÁRIA OZIEL ALVES III, PLANALTINA, DISTRITO FEDERAL
Assentamento Rural Oziel Alves III. Memória biocultural. Transiçãoagroecológica. Referência sociocultural.
O conceito de memória biocultural busca compreender as práticas produtivas e a qualidadedos agroecossistemas numa dinâmica transgeracional — que acessa a memória a partir detempos e espaços diversos ao longo da trajetória de vida. Este trabalho objetiva registrar asreferências socioculturais manifestadas de modo articulado nos relatos de assentados(as) dareforma agrária, em suas práticas agroecológicas e nas paisagens manejadas em suas unidadesprodutivas. A área de estudo se localiza no Assentamento Oziel Alves III, o maior emextensão e número de famílias no Distrito Federal, cuja ocupação iniciou-se em 2002, noNúcleo Rural Pipiripau, Planaltina. A pesquisa se desenvolveu junto a três famílias assentadasque fazem parte da Associação de Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu(Aprospera), representativas da luta pelo acesso à terra e do processo de transiçãoagroecológica vivenciado no território. O percurso metodológico para o registro de históriaoral abrangeu a construção de diálogos durante a travessia pelo agroecossistema e a prática deescalda-pés enquanto ambiente de entrevista. Compuseram a metodologia um roteiro deentrevistas semiestruturado e a escuta sensível, registro em diário de campo, posterior análisedo diário e das gravações junto às revisões bibliográficas realizadas ao longo de toda pesquisa.Os resultados são apresentados a partir das seguintes categorias: raízes ancestrais(relaçõesentre origens e as etapas de inserção no território até o acampamento); terra e solo(primeirasexperiências produtivas, percepção comparada entre os manejos e os solos das regiões deonde e quando aprenderam a agricultura, as redes associativas e de comercialização);água(relações com o acesso à água na trajetória de luta pelo acesso à terra); planta e semente(práticas agroecológicas, enriquecimento da biodiversidade na paisagem, reapropriação dehortaliças tradicionais, o beneficiamento de produtos da sociobiodiversidade, busca porautonomia de mudas); festa e tradições (Festa e Folia do Divino Espírito Santo, tradição docultivo do arroz e da produção de rapadura). Neste itinerário, os diálogos sociotécnicos (entreos saberes técnico-científico e tradicional-popular) se debruçaram sobre experiências,conceitos, práticas e tecnologias relacionadas a temas como a sociobiodiversidade do Cerrado,as plantas alimentícias não convencionais (Pancs) e medicinais, o processamento artesanal dealimentos e a promoção da biodiversidade nos cultivos e cuidados com solo fomentados pormeio de redes de sujeitos coletivos. A análise dos resultados evidenciou, assim, que aspectosfundamentais da formação de um território em transição agroecológica perpassam, junto à 11viabilização produtiva e de renda no campo para as famílias agricultoras, de modo intrínseco,o fortalecimento da organização comunitária em suas diversas formas e a construção de umanova identidade camponesa a partir das referências socioculturais que carregam em suahistória.