Modelagem hidrossedimentológica e dos serviços ecossistêmicos da Bacia do Rio Pardo (MG) em função do uso e cobertura do solo e do clima
modelo InVEST; uso e cobertura da terra; variabilidade climática; semiárido
A cobertura e uso do solo podem afetar a quantidade e a qualidade de água devido às mudanças na infiltração e no assoreamento dos cursos de água, e as mudanças climáticas podem modificar o ciclo hidrológico. A análise dessa relação é fundamental para gerar subsídios ao planejamento no uso da terra e dos recursos hídricos, sendo mais importante ainda em regiões semiáridas, onde a água já é um recurso limitado e onde ocorrem secas periódicas. Para fundamentar o planejamento territorial, é necessário um diagnóstico dos serviços ecossistêmicos e as possíveis alterações destes em função de diversas pressões na bacia, tais como a mudança no uso e cobertura do solo (LULC) e no clima. O mapeamento e modelagem, em escala de bacia hidrográfica, da distribuição espacial dos serviços ecossistêmicos mediante tais pressões, auxiliam na identificação de áreas críticas e na concentração de esforços para melhorar a gestão do território. Nesta pesquisa buscou-se responder às seguintes questões: (1) Como a LULC e sua distribuição espacial contribuem para a quantidade e qualidade da água na Bacia do Rio Pardo, região semiárida, no norte de Minas Gerais? (2) Como as condições climáticas médias e extremas influenciam essas respostas? Essas questões foram respondidas com a utilização dos modelos SDR (Sediment Delivery Ratio) e SWY (Seasonal Water Yield) do InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs) para modelar a erosão, a vazão e geração de serviços ecossistêmicos de retenção de sedimentos e de disponibilidade hídrica. Tais processos foram analisados sob situações reais de LULC e alterações climáticas, e sob cenários hipotéticos. Os resultados do modelo SDR indicam que as áreas antropizadas são importantes fontes de sedimentos e facilitam o transporte de sedimentos de outras partes da bacia para os rios. A restauração ecológica das áreas de preservação permanente e o manejo conservacionista proporcionam maior conservação do solo e retenção de sedimentos, mas a eficácia é reduzida em cenários de extremos úmidos. Os resultados do modelo SWY sugerem que a redução da precipitação nos últimos anos é a principal responsável pela escassez hídrica na região, mas a conversão da vegetação nativa em plantios de Eucalyptus potencializa a escassez nas regiões da bacia onde estão localizados. A restauração da vegetação nativa e o uso de práticas de manejo conservacionistas tiveram pouco efeito na disponibilidade hídrica da bacia no cenário de extremo seco. Em geral, os resultados indicam que o solo e a água na Bacia do Rio Pardo, quanto mais sujeitos a pressão humana mais sensíveis podem se tornar às condições climáticas de anos extremos e que os esforços de adaptação às mudanças climáticas devem considerar o planejamento do uso da terra.